Até quando seremos permissivos com os casos de racismo do Carrefour?

Nem chegamos no meio do ano e grupo francês já está no terceiro caso de racismo

9 mai 2023 - 13h50
(atualizado em 26/10/2023 às 17h31)
Casal negro é agredido e humilhado nas dependências do Carrefour em Salvador
Casal negro é agredido e humilhado nas dependências do Carrefour em Salvador
Foto: Reprodução

Na última sexta-feira, 5,  um casal foi agredido por seguranças de uma loja do grupo Carrefour. Eles teriam furtado dois sacos de leite para alimentar a filha. O vídeo é terrível, inclusive não recomendo que assistam. Eles são agredidos e coagidos. Sobra até para uma transeunte que indaga os agressores sobre o que estava ocorrendo.

A empresa em questão vem colecionando casos de racismo. Em 2020, quando João Alberto, homem negro, foi espancado e assassinado por dois seguranças da rede, o conglomerado anunciou várias medidas para combater racismo. Aparentemente foram medidas para “inglês ver”, já que, segundo o Alma Preta Jornalismo, a empresa envolvida no caso citado acima trocou de nome e firmou novo contrato com o grupo Carrefour.

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A rede tem alguns casos nesse sentido, mas nem todos ganham grande repercussão. Aqui, em Salvador (BA), em 2021, uma funcionária do Atacadão, empresa que pertence ao mesmo grupo, de Cajazeiras perguntou a uma criança de oito anos se ela iria pagar pelo pacote de macarrão instantâneo ou roubá-lo. Em 2022, três garotos foram trancados em uma sala do mercado do Big, que seria comprado pelo Carrefour naquele ano, e funcionários do estabelecimento teriam agredido os adolescentes, além de chamá-los de "pretos e favelados".

Chegou 2023 e, ao que parece, nada mudou. Já tivemos o caso em Curitiba, da professora Isabel Oliveira que foi perseguida por um segurança enquanto fazia compras. Ela voltou pouco tempo depois do ocorrido e ficou de sutiã e calcinha com a frase “sou uma ameaça” escrita na barriga.

Outro caso, nesse ano, foi o do marido da bicampeã olímpica de vôlei Fabiana Claudino, o apresentador Vinicius de Paula. Ele disse que uma funcionária recusou atendê-lo em um caixa preferencial que estava vazio, alegando que poderia ser multada caso passasse as compras dele. Entretanto, logo depois, ele viu uma mulher branca ser atendida pela funcionária sem problema algum.

O caso do casal Jamile e Jeremias, infelizmente, será visto apenas como mais um. A verdade é que não adianta só punir os agressores diretos, até porque, eles poderiam estar seguindo ordens de cima e, muitas vezes, o trabalhador é refém do salário. O que deve ser feito é punir severamente a empresa. Ela precisa sentir no bolso, que é a única língua que grandes conglomerados entendem. É necessário também cobrar medidas efetivas dessas empresas, não só o marketing social barato, que visa apenas ludibriar o senso comum enquanto, no mundo real, funcionários seguem perseguindo e intimidando pessoas dentro da loja, que na maioria das vezes são negros e, muitas das vezes, têm uma profissão e uma roupa que jamais gerariam suspeitas se o indivíduo em questão fosse branco.

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No sábado, 6, a empresa publicou nas redes sociais que desligou a equipe de prevenção da unidade, mas afirmou que, de acordo com as características identificadas no vídeo, "é possível afirmar que o agressor que aparece nas imagens não é funcionário da loja". A nota ainda diz: "Estamos tomando todas as medidas a nosso alcance para que esse crime não fique impune, e esperamos que as imagens permitam a identificação de todas as pessoas envolvidas”.

A verdade é que vemos pessoas brancas roubando dinheiro de formatura, sonegando impostos, fomentando golpe de estado, recebendo milhões em joias e que não recebem o tratamento de "suspeitas" que pessoas negras recebem diariamente. Talvez se esses grandes mercados se concentrassem em vigiar pessoas brancas dentro das suas lojas, descobririam que o privilégio de raça permite que determinadas pessoas cometam furtos sem levantar a mínima suspeita.

Fonte: Redação Nós
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