Ontem, o participante Gabriel Fop deixou a casa mais vigiada do Brasil em um paredão onde enfrentava o enfermeiro Cezar Black e a miss Alemanha Domitila Barros. Para muitos, como eu, o resultado era óbvio, contudo, com o passar do tempo, era nítido que tinha uma onda massiva de pessoas defendendo o brother e querendo a eliminação da Domitila, que é uma mulher negra.
Pode parecer exagero, mas não é! Não se tratava de um simples paredão entre um homem branco e uma mulher negra. Não é sobre isso. Aliás, até era, mas não em primeiro plano. Digo isso porque, para além das questões sociais, tínhamos as condutas dos participantes dentro do programa. Ela com algumas atitudes que podem desagradar as pessoas, mas sem ferir camadas da sociedade e ele que, além de várias condutas questionáveis, ainda teve comportamentos que, de forma indireta ou não, atingem grande parte da população brasileira.
O que ele fez com a Bruna Griphao durante o confinamento já foi falado mil vezes, inclusive pelo apresentador do programa. E ainda bem que foi! Porém, as problemáticas envolvendo Gabriel não pararam por aí. Ontem mesmo, antes da sua eliminação, ele pegou o participante Bruno Gaga para, talvez, ser o receptor de suas frustrações, medos e inseguranças. Em um curtíssimo espaço de tempo, ele comparou o cabelo do Bruno ao gramado da casa, sendo que no dia anterior já tinha feito essa comparação chamando o cabelo dele de duro, comparou Gaga com o Garfield, segundo ele, por ser tão gordo e, por fim, após Bruno achar um objeto solto na piscina, Fop perguntou: “Você aguenta um negócio desse tamanho?”.
A Domitila não é, nem de longe, uma participante que me agrada. Não só por movimentar pouco o jogo, mas também pelo jeito dela de conversar, principalmente com Cezar Black. Isso me incomoda. Nada contra um deboche, eu até gosto, mas usá-lo junto com indiferença enquanto a outra pessoa tenta se resolver com você para que o jogo em grupo possa fluir melhor, particularmente, me incomoda. Mas nem todo ranço que eu pudesse ter por ela me faria ignorar as coisas feitas pelo seu adversário direto nesse paredão. Digo isso pois ela teve 46%, o Gabriel 53% e o Cezar sequer bateu 1% das intenções de voto.
E, aí, entra a questão de raça e gênero. Como uma mulher negra pode ser preferência de voto por, segundo alguns, ser chata, à medida que um branco padrão pode ferir várias minorias e grande parte do público ver isso como uma coisa menos grave? Entendem? Tipo, tem uma galera achando que ser chata é pior do que gordofobia, machismo, etc. É muito desconfortável ver como os valores da sociedade estão deturpados e não dá para desassociar isso dos 58.206.354 de votos que o ex-presidente do Brasil recebeu. Até entendo que para alguns pode parecer exagero, mas não entra na minha cabeça pessoas que achem que vale a pena manter um cara no horário nobre da TV disseminando atitudes que ferem boa parte da população.
Com isso, não estou falando que tem que cancelar o cara, nada disso. Não quero, nem de longe, dar a entender que ele, enquanto indivíduo, é causador de todos os males sociais. O problema é estrutural e estruturante e ele é só mais um que está absorvido por esses ideais equivocados. Nem mesmo se ele saísse com 100% dos votos mudaria o fato da nossa sociedade ser racista, machista e classista. É muito perigoso tentar sintetizar todas as questões em cima de uma pessoa, pois dá a errônea sensação de que a punição dele fará com que as coisas mudem, sendo que isso não vai acontecer. A mudança é estrutural! A alteração da forma como enxergamos a sociedade mudará as pessoas que entram nos reality shows e não o contrário.
Tudo que foi descrito acima já foi provado em BBBs passados, onde participantes com comportamentos similares ganharam o prêmio, mas ainda veremos mais confirmações durante essa edição do programa. Há grandes chances de vermos pessoas como o Dr. Fred Nicácio e a própria Domitila sendo eliminados com rejeição por atos que nem se comparam com os de Gabriel. Também é muita esperança, ou ingenuidade, minha achar que um homem preto e gay e uma mulher negra iriam conquistar a mesma empatia da audência de homem branco, hetero e cis. O negro para ser aceito no Brasil tem que ser submisso. Qualquer coisa que fuja disso causa espanto e em seguida ojeriza, e os meios de massa vêm provando isso diariamente.