O fim do BBB24 está próximo, e quanto menor a quantidade de participantes, mais aumentam as fake news e as tentativas de descredibilizar o favorito ao prêmio, o já finalista Davi. Esse tipo de conduta sempre existiu, não é novidade. Contudo passa a ser estranho a forma e de onde vem grande parte do ódio contra Davi, que é importante lembrar que é um cara de 21 anos, preto, da periferia de Salvador, motorista de aplicativo, que já passou fome e viu o padrasto agredir sua mãe na adolescência, ou seja, um rapaz que teve uma vida muito mais adversa do que 90% das pessoas que o julgam.
O 'hate' sobre ele vem de uma bolha progressista que direciona sua torcida para outros competidores. Isso me assusta. Me assusta, pois me faz questionar o progressismo das redes sociais, me assusta por perceber que para essa galera de reality vale tudo e me preocupa, sobretudo, por pensar que, talvez, pessoas como eu, que produzem conteúdo antirracista na internet, falham ao se comunicar.
A mais nova mentira requentada da vez é que o baiano é bolsonarista. O que é uma mentira desleal e propagada por pessoas que sabem disso. E isso se alastra de maneira direta e indireta também. Os mesmos que outrora apontaram o dedo afirmando que ele era bolsonarista por ser evangélico e ter servido ao exército, são os que agora dão a entender, de maneira sorrateira, que ele irá virar por causa da mãe dele.
Importante lembrar que Davi tem post no facebook convocando as pessoas para greve geral contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, tem falas dele dentro do reality falando sobre a importância das vacinas, da educação e sobre o racismo que já viu e viveu. Ele falou que não se identificou com o exército. Já o vimos falando que quer ser presidente do Brasil em um contexto que deixava a entender que o atual presidente Lula o inspirava, ou seja, quem fala o contrário sabe que está mentindo e por que estão mentindo.
Todas as evidências apontam que Davi seja lulista. São frases ditas por ele durante o confinamento e, mesmo assim, as pessoas tentam manipular essa questão por elementos criados principalmente por pessoas de fora do Nordeste, que não entendem a dinâmica da região e ainda assim querem espalhar desinformação.
Moro em Salvador e não sei como é fora daqui, mas posso te dizer que, na nossa região, ser evangélico, ser do exército e votar para um prefeito ou deputado de direita não faz ninguém bolsonarista. E eu nem estou falando do Davi, e, sim, da população em geral. Em Salvador, por exemplo, Lula venceu com mais de 70% dos votos, já para governador, que tinha na disputa Jerônimo (PT) contra ACM Neto (o nome já diz tudo), o candidato petista teve apenas 35% dos votos. Entendem como é o rolê por aqui?
Lula teve um impacto no Nordeste que nenhum sulista jamais irá compreender. O presindente resgatou muita gente da fome e da miséria, trouxe esperança para uma população que teve as riquezas da sua região explorada antes do Brasil ser Brasil, enviadas para Portugal e levadas para o Sudeste com a migração.
Então, aqui você vai achar pessoas que têm todo perfil de bolsonarista, mas que, na verdade é fã de Lula. Gente que vai dizer que racismo é 'mimimi', mas vota 13; gente que vai dizer que órgão excretor não faz filho, mas vota 13; gente que fala que mulher tem que ser submissa e vota 13. E repito: não estou falando do Davi, até porque ele já provou que não pensa desse jeito e falou que está disposto a aprender dentro do próprio programa.
Ele, sim, tem a desculpa de falar que não teve oportunidade de aprender sobre isso. Uma pessoa que passou fome vai ter o que como prioridade? Uma pessoa que vê na igreja um local de acolhimento e ajuda, vai estar preocupado em se sentir pertencente ou em saber que um Papa autorizou a escravização africana? Um cara que vê no exército a possibilidade de ter uma carreira, ter refeição garantida, local para dormir, vai se preocupar em servir ou na ligação da instituição com Bolsonaro?
É terrível observar o quão rasteiro algumas pessoas podem ir por causa de reality show ou para tentar engajar. Vale tudo. Até imputar crimes e mentiras para um homem que tem no seu estereótipo a figura de quem mais sofre com esse tipo de pré-conceito. Quem faz esse tipo de coisa tem que voltar umas casinhas dentro do progressismo e aprender que lutar por equidade não pode ser algo fluido que muda de acordo com sua afeição pelo indivíduo da vez.
Essa luta precisa de consistência ainda que a pessoa em questão não atenda sua expectativa que, provavelmente, é embebida de um racismo que sua militância rasa ainda não deixou você enxergar.