Cinco intelectuais negros que lutaram contra a escravidão

Hoje, Dia da Consciência Negra, escolhi trazer cinco homens negros que conseguiram ser lembrados pela sua intelectualidade

20 nov 2022 - 05h00

Uma vez, vi o Silvio de Almeida falar que nós, homens negros que estamos no campo do saber, lutamos diariamente para ser vistos como intelectuais e não como um falo ou apenas pelo vigor físico. Duas máximas racistas que colocam o homem negro no lugar de coisa para o trabalho e não de ser pensante. Outro fator que me estimulou a fazer essa lista foi o fato de que homens negros são os que têm o menor grau de escolaridade e são também a minoria no ensino superior. Espero que entendam as motivações e vamos para a lista.

João da Cruz e Sousa era filho de negros escravizados libertos por um militar
João da Cruz e Sousa era filho de negros escravizados libertos por um militar
Foto: Reprodução/Youtube

João da Cruz e Sousa

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O poeta João da Cruz e Sousa, nascido a 24 de novembro de 1861, em Santa Catarina, era filho de negros escravizados libertos por um militar, o qual seria seu tutor até a adolescência, o que lhe permitiu acesso a uma educação acima da média, sobretudo quando pensamos em um jovem negro da época. Após a morte de seu padrinho, o poeta deixa os estudos e inicia a escrita de crônicas abolicionistas e antimonárquicas na imprensa catarinense. Ele foi impedido de assumir o cargo de promotor em Laguna, para o qual fora nomeado, por ser negro. Algumas das suas obras enquanto poeta foram: Missal, Broquéis, Faróis, Último Soneto, Triunfo Supremo, Vida Obscura, Evocações, Sorriso Interior e Tropos e Fantasias.

Luaís Gama se destacou como poeta, jornalista e, principalmente, como rábula, advogado sem diploma
Foto: Reprodução/Wikipedia

Luís Gama

Filho de uma negra liberta e de um fidalgo português, Luiz Gama nasceu na Bahia em 1830, destacando-se como poeta, jornalista (um dos fundadores do jornal Diabo Coxo) e, principalmente, como rábula, advogado sem diploma. Nessa função, ficou famoso um de seus argumentos em defesa dos africanos escravizados: que "ao matar seu senhor, o escravo agia em legítima defesa". Em seu poema Bodarrada, Luiz Gama expunha a necessidade de se assumir a negritude, além de criticar os brancos e imperialistas. Foi ele o primeiro a utilizar a subjetividade negra na literatura. Gama faleceu em 1882 e, infelizmente, não viu o fim da escravização. Algumas poesias: A Borboleta, Retrato, Quem Sou Eu?, Meus Amores, Minha Mãe, A Cativa, O Rei Cidadão e Lá Vai Verso.

José do Patrocínio enfrentou grandes dificuldades devido à sua origem social
Foto: Reprodução/Wikipedia

José do Patrocínio

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Foi um orador, farmacêutico, escritor, jornalista, abolicionista e republicano. Ele enfrentou grandes dificuldades devido à sua origem social. Filho de uma escravizada alforriada e de um padre, atuou ativamente pela abolição definitiva da escravidão e pelo fim do Império no Brasil (1840-1889). Não só escrevia artigos ferrenhos sobre a urgência da abolição como também ajudava muitos negros a fugir ou a comprar a alforria. Em 1883, fundou a Confederação Abolicionista, que reunia todos os clubes abolicionistas do país, e redigiu e assinou um manifesto em prol de sua causa. Ele foi eleito para a Câmara Municipal, foi preso político e teve seu jornal fechado pelo mesmo cidadão que mandou prendê-lo anteriormente.

André Rebouças foi o primeiro engenheiro negro a se formar pela Escola Militar
Foto: Reprodução/Wikipedia

André Rebouças

André Rebouças (1838-1898) foi um engenheiro, professor, abolicionista e monarquista brasileiro. Nasceu em Cachoeira, na Bahia, no dia 13 de janeiro de 1838. Filho do advogado Antônio Pereira um homem negro, autodidata, e de Carolina Rebouças, filha de um comerciante, ele foi o primeiro engenheiro negro a se formar pela Escola Militar. Rebouças junta-se a outros abolicionistas nas manifestações públicas, mas permanecia mais nos bastidores. Administrava os fundos, organizava as manifestações e ajudou a fundar diversas sociedades secretas. Ele tinha uma visão política muito afrente da sua época, e inclusive havia dito, muito antes da abolição ser assinada, que não existiriam mudanças efetivas socioeconômicas dos escravizados se junto à liberdade não tivesse uma reforma agrária.

Manuel Querino era atuante na luta abolicionista e no movimento republicano
Foto: Reprodução/Wikipedia

Manuel Querino

Manuel Querino era um pintor, desenhista, artista, professor de desenho, jornalista, pesquisador, historiador, folclorista, etnógrafo e escritor. Nasceu em Santo Amaro, na Bahia, em 28 de julho de 1851, filho do carpinteiro José Querino e de Luzia Pita. Após a morte prematura dos pais, foi para Salvador, onde recebeu como tutor o Bacharel Manuel Correia Garcia, professor aposentado, que o proporcionou uma boa formação. Chefe do Partido Liberal, Querino passou a ser atuante na luta abolicionista e no movimento republicano. Manifestou-se nas cessões da Sociedade Libertadora Baiana e no jornal Gazeta da Tarde, onde escreveu uma série de artigos denunciando o absurdo da escravidão e proclamando a necessidade da abolição imediata. Algumas das suas obras foram: A arte culinária na Bahia, Desenho linear das classes elementares, A Bahia de outrora, Salvador, O colono preto como fator da civilização brasileira e Elementos de desenho geométrico.

Esse resumo não faz jus a trajetória desses ícones, mas ao menos pode apresentá-los para uma parcela da sociedade que, assim como eu, não viu nada sobre eles nas salas de aula.

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Fonte: Redação Nós
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