Para quem não está assistindo O Big Brother Brasil 23, tentarei dar um resumo rápido. Entrou uma nova participante, a mexicana Dania Mendez. Na madrugada de quinta-feira, 16, durante a festa do líder, Cara de Sapato ficou tentando beijá-la, chegou até a roubar selinhos e, na minha leitura, tudo isso ocorreu enquanto Dania mostrava com gestos corporais incômodo com a situação. Já Guimê, que é casado com a cantora Lexa, em vários momentos da mesma festa, tocou no corpo da mexicana sem seu consentimento. Pelo que deu a entender pelas imagens, ele a tocou nas nádegas e no seio. Dá para ver, pelas mesmas filmagens, que chega ao ponto da participante estrangeira se encostar na mesa para evitar o toque. Na noite da quinta-feira, ambos os participantes foram expulsos.
Após a expulsão deles, o que me pegou muito foi o choro da vítima e ela se culpabilizar. Isso me fez pensar rapidamente como as mulheres são socializadas de maneira bem parecida, independente do país ocidental em que ela esteja. Em momento algum, pelo que pareceu, ela sentiu a justiça sendo feita e isso é muito mais comum do que podemos imaginar.
Essa conduta é culpa da nossa sociedade, que fique muito claro. Não há nenhuma intenção de culpar a vítima. Muito pelo contrário, eu achei péssima a forma com que foi feita a expulsão: ao vivo, na frente de todos e colocando Dania de frente para seus algozes e ainda tendo que se explicar para ela. Foi triste e doloroso.
Não estou exagerando. Só para vocês terem ideia, o tio do MC Guimê teve a pachorra de tentar culpar Lexa pelas merdas feitas pelo seu sobrinho. Ele disse em comentário no instagram: “Trutão tomara que o Drama da sua Sra não lhe traga muitos prejuízos e você consiga permanecer na sua caminhada! Tá meio estranho tanto drama e depois viaja com a Rainha dá Putaria. Só quem bebe sabe as mancadas que damos embriagados. Fé e marcha”. Sabe o que é pior? Isso não me surpreende. A culpa é da bebida, é da mulher, a culpa só não é do cara que a importunou sexualmente.
Vocês têm noção que tanto Guimê quanto Sapato foram os participantes mais seguidos nas redes sociais após a expulsão? Vocês sabiam que tem gente defendendo o beijo roubado, dizendo que isso é criminalizar o flerte? Vocês têm noção que ambos, sobretudo o Cara de Sapato, estão recebendo apoio, enquanto a vítima sofre hate dessa mesma galera?
As desculpas mais mirabolantes sendo conjecturadas para relativizar o ocorrido! Sabe aquele papo arcaico, que nós, de uma bolha mais progressista, achávamos que estava superado, de a galera falar que “se ela não quisesse, não tinha dado corda”? Eu nem vou entrar no mérito se ela deu corda ou não, fato é que ela tinha todo direito de mudar de ideia, se tivesse dado corda. Se você está com uma mulher nua na sua frente, que a um segundo atrás queria fazer amor com você e, no segundo seguinte, ela muda de ideia e fala ‘não’ é NÃO! O que dirá de um um simples flerte!
Isso dito, quis escrever um pouco do ponto de vista do algoz. Porque, diferente de muitos, para mim é indiscutível que a cultura do estupro existe e que nunca iremos sanar essa mazela enquanto tivermos negando o óbvio. Quase todos os homens sabem do que eu estou falando. Nós sabemos como foi nossa socialização em relação às mulheres e aos seus corpos. ‘Não’ NUNCA foi ‘não’ de verdade para nossa geração. Muito pelo contrário. Não só o homem que desistia no primeiro ‘não’ era visto como lerdo pelo grupo, como os insistentes que conseguiam algo eram vistos como exemplo a ser seguido.
Outro ponto é que a expulsão me surpreendeu! Confesso que ambos serem eliminados foi uma surpresa. Mas também não romantizo a emissora, não. Acredito que só ocorreu desse jeito porque houve pressão do público, que gerou pressão na direção do programa e só aí eles começaram a avaliar a possibilidade. Posso estar errado? Posso! Mas nenhuma expulsão na história foi feita ao vivo. Ao que me parece foi decidido de última hora.
Com isso, quero deixar um toque final para os meus pares de gênero. Não adianta apontar o dedo para Guimê e Sapato, se quando seu amigão faz coisas similares você finge que não vê e não o confronta. Isso quando não fica dando risada feito um babaca. E isso vale para mim também! Temos que ficar o tempo todo nos monitorando para não cair nesse ideal fracassado de masculinidade que atinge muito as mulheres, mas que também adoece muitos homens.
