Jojo Todynho prova que gênero e raça não determinam perfil

Ser parte de um grupo oprimido não faz com que o indivíduo se torne automaticamente uma pessoa perfeita e acima de qualquer suspeita

19 set 2024 - 08h49
(atualizado às 10h17)
Jojo Todynho fala sobre política
Jojo Todynho fala sobre política
Foto: Reprodução

Já começo dizendo que aquela frase batida não será a diretriz desse texto. “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor.” Nada contra o grande Paulo Freire, tá? Cara é genial, não tem o que falar, mas toda vez que uma pessoa de minoria faz bobagem, sai gente de todo canto com essa oração e não desenvolve outras nuances que, ao meu ver, podem ser ditas.

A verdade é que ser mulher, negro, lgbtqia+, indígena, PcD e etc, não faz ninguém ser perfeito. Não faz mesmo. Se eu for parar para relatar as sacanagens que já vivi que foram proporcionadas por uma galera militante, o texto ia ser só de “causos”. Sério. E observe que eu estou falando de pessoas que são de minorias, são de esquerda e que militam, assim como eu, virtualmente. Assim como eu já devo ter feito o mesmo para outras pessoas também. Ou vocês acham que só porque uma pessoa tem um conhecimento sobre algo e sabe propagar isso faz dela ilibada?

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Eu posso afirmar que a cantora Jojo Todynho usou e abusou do pink money para ganhar notoriedade e ascender na carreira? Não posso, mas que parece, parece. Posso afirmar que a Jojo cantou meio mundo de saliência de pegar, sentar, pular e outros infinitivos de cunho sexual em canções e declarações, coisas que, em tese, pessoas de direitas, conservadoras não deveriam fazer? Acho que eu poderia, mas não vou, para evitar ter que colocar uma roupa social e pagar advogado.

Mas aí eu também volto e te pergunto: isso é uma grande novidade nesse meio do entretenimento? Teve funkeiro com vários filhos e esposas fazendo declarações conservadoras, tem cantora de axé que deitou e rolou no pink money e depois apareceu com abajur em formato de arma e abaixo uma bíblia, teve de tudo. Estou falando isso para passar pano para Jojo? Jamais, mas vale constar que essa não é uma prática nova.

Cheguei até a ver um pessoal bom falando que ela estava fazendo isso de caso pensado, que agora ia fazer uma moeda na conta da direita, que estava vendo que o dinheiro de publicidade e investimentos no campo progressista estava minguando. E eu confesso que gostaria muito que isso fosse verdade. Dos males o menor. Tem tanto picareta mamando na teta da direita por que não a Jojo? Sobretudo porque, segundo as más línguas, ela está querendo construir uma carreira política e a direita é carente de uma negona com Bolsonaro. Ainda mais se ela chegar com aquele discurso de arrependimento, que Deus a libertou que os evangélicos tanto gostam. Porém eu não acredito que seja isso, infelizmente. Suponho que ela sempre tenha tido convicções à direita, mas quando viu por onde estava entrando a grana, resolveu confeccionar uma persona. Mas só acho.

A gente não pode romantizar ser humano nenhum. Posso dar o papo reto aqui? Conheço gente que já votou em Bolsonaro que tem muito mais caráter que político de esquerda. E eu não estou falando do que eu acho, não. Estou falando do que já vi dentro de partido político. O cara que no palanque falava de inclusão e nas reuniões mitigava a questão racial e sabotava candidatura negra de maneira sutil. Então assim, vamos com calma.

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Precisamos entender que ser mulher, negra, gorda e periférica não faz ninguém ser alecrim dourado. Tem gente que mente que sofreu algum tipo de violência por benefício próprio, tem gente que abraça causas por ser conveniente, tem gente que coloca feminista ou antirracista na descrição só por modismo, tem de tudo. Pode ser a minoria? Eu acredito que sim. Contudo, foi nessa de acreditar que todo mundo é bem intencionado que eu quase divulguei uma acusação de violência doméstica falaciosa.

Então, sim, precisamos ficar atentos, continuar ouvindo as vítimas e acreditando nas pessoas. O que não dá é acreditar que só porque a pessoa faz parte de uma minoria que ela irá corresponder às nossas expectativas. As coisas que estruturam nossa sociedade estão tão enraizadas no nosso subconsciente que ninguém está isento de tropeçar nelas. Agora, cabe a nós perceber quando esse tropeço é sincero ou quando é mais um teatro com finalidade em capitalizar e encher o bolso de dinheiro, porque no final das contas tem muita gente que pensa muito no seu e pouco no coletivo.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
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