No último domingo, 21, o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desistiu de concorrer à reeleição. Fez uma cartinha falando de alguns feitos do seu governo, explicou por alto porque decidiu desistir da corrida presidencial, mas nada muito direto. Com isso, a atual vice-presidenta, Kamala Harris, que é uma mulher negra, virou um nome forte para concorrer ao cargo de presidente dos EUA contra o problemático Donald Trump.
A possibilidade de ter uma mulher negra no cargo de maior importância política mundial fez com que alguns ficassem muito contentes e alvoroçados, esquecendo de todo o mal que pessoas que ocupam essa cadeira trazem para o resto do mundo.
Algumas dessas pessoas costumam comentar que antes ter uma mulher negra lá do que mais um homem velho e branco. Outros realmente acreditam que o fato dela fazer parte de minorias fará com que algumas atitudes dela sejam mais comedidas. E tem uma galera que não está nem aí para nenhuma nuance, mas fica feliz por ter uma mulher negra em um cargo de altíssima importância no mundo.
Se você me perguntar se eu entendo quem fala coisas como as citadas acima, eu vou dizer que sim, porque já fui essa pessoa. Dentro do processo de desconstrução, a gente passa por várias etapas e eu não fui diferente.
Na adolescência achava que racismo era mimimi, que tinha mulher para pegar e para casar e que ser LGBTQIA+ era coisa do diabo. Quando comecei a me desconstruir achei que todos os problemas se resumiam a raça e negligenciava outras questões sociais.
Já disse que Marx era bobagem branca e demorou um certo tempo dentro da esquerda para eu entender mais sobre imperialismo, capitalismo tardio e, sobretudo, como causas sociais vem sendo usadas em alguns casos para eleger pessoas que seguiram fazendo coisas que prejudicam a comunidade na qual ele faz parte.
O que eu estou falando é que não existe motivo algum para pessoas negras, principalmente fora dos EUA, estarem felizes com a possibilidade de uma mulher negra ser presidente da EUA. Mulher ou não, negra ou não, ela segue sendo uma conservadora que até dentro do seu país apoiou algumas atitudes que acabam com a população afro-americana.
Ela é linha dura, talvez até mais que o Biden. Sabe o papo de "bandido bom é bandido morto'? Então, ela vai por aí. Depois deem uma pesquisada sobre os mandados dela em São Francisco que vocês vão ter uma ideia legal. Fora que ela até então não falou nada sobre o que o Netanyahu [primeiro-ministro de Israel] vem fazendo.
Poderia falar de vários desmandos imperialistas que ocorreram no mundo enquanto Obama era presidente dos EUA, mas tem uma coisa que não sai da minha cabeça e alguns podem até chamar de teoria da conspiração.
Fato é que eu realmente acredito que o golpe sofrido pela Dilma em 2014 teve interferência internacional e vocês sabem quem era o presidente nessa época? Vocês também sabem a cor de quem foi mais prejudicado após o golpe? Pois é. Quando o pré-sal foi anunciado uma certa presidenta queria que parte do dinheiro feito ali fosse destinado à educação e saúde. E lembram que em 2022 teve uma PL para privatizar o pré-sal e desobrigar que recursos fossem destinados para o povo? Nada é por acaso.
Enfim, não acho que a Kamala seja pior que o Trump, mas está longe de ser motivo de orgulho. Ela sentando na cadeira da presidência vai defender o interesse do país que mais invade outros países, que mais desrespeita as soberanias nacionais alheias, que financia e cria dezenas de guerras e que está pouco preocupado se os corpos empilhados são de pessoas negras, mulheres ou de outra minoria.
Ter pessoas negras sendo responsáveis por genocídios não deveria ser motivo de comemoração. Kamala é uma opção melhor que Trump? Sim. Seria curioso ver o candidato que fala em construir muro na fronteira e despachar imigrante perdendo para a filha de uma jamaicano com uma indiana? Seria. Mas, apesar de algumas diferenças, ambos irão desgraçar o mundo todo para beneficiar a mesma burguesia norte-americana que só se preocupa em encher o bolso de dinheiro a qualquer custo.