O constante racismo sofrido por Vinícius Júnior encontra guarida na La Liga

Novo caso ocorre menos de um mês após a Ministra da Igualdade Racial Anielle firmar acordo de combate ao racismo com o governo da Espanha

22 mai 2023 - 11h38
(atualizado em 26/10/2023 às 17h28)
Vini Jr. durante partida contra o Valencia: situação insustentável e desculpas esfarrapadas da La Liga
Vini Jr. durante partida contra o Valencia: situação insustentável e desculpas esfarrapadas da La Liga
Foto: PABLO MORANO/REUTERS

Ontem, pela "milésima" vez, o jogador brasileiro Vinícius Júnior foi vítima de racismo durante um jogo do campeonato espanhol. Depois de ter um boneco com seu nome pendurado, simulando um enforcamento; de ouvir ofensas dentro do campo; de ser perseguido com entradas violentas dos seus adversários; de sofrer dentro do seu próprio time e da sua torcida quando não correspondia às expectativas futebolísticas, Vini Jr teve que passar boa parte do jogo contra o Valencia ouvindo a torcida adversária o chamando de macaco. Ele identificou um dos seus agressores na arquibancada, no fim do jogo houve uma confusão, Vini levou um mata-leão e ainda assim foi o único expulso da partida.

Que países europeus são racistas não é novidade para ninguém. Muita gente se ilude, sobretudo por assistirem seleções como a da França, Bélgica e Inglaterra com muitos jogadores negros, mas a verdade é que jogadores negros na Europa ou seguem a cariilha e são tolerados, ou são vitimas constante de racismo. Racismo esse que, quando o jogador vai bem, ele sofre dos adversários, mas quando ele vai mal as ofensas partem da própria torcida.

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A Espanha, até por ser protagonista no futebol de clubes há muitos anos, e isso só é possível graças a jogadores negros e estrangeiros, é reduto de muitos casos de racismo. Boa parte dos jogadores brasileiros já sofreram algum tipo de violência jogando no país hispano. Essas questões nunca foram levadas a sério dentro do país. Arrisco dizer, correndo o risco de estar errando no calor da emoção, que a Espanha e a La Liga são os locais mais receptivos a esse tipo de conduta dentro dos grandes do futebol.

E ao que parece isso vem piorando, já que, apenas falando de casos com Vini Jr. que aconteceram dentro de campo, já é a oitava vez desde 2021 e a quarta só esse ano. O problema está tão grave que até o Ancelotti, técnico do Real Madrid, time de Vini, que por vezes foi omisso e conivente com os ataques ao jogador, se pronunciou em tom de crítica após o ocorrido no último domingo.

Não há exagero algum no meu tom de crítica à Espanha e à La Liga. A prova disso é que o presidente do campeonato, Javier Tebas, se pronunciou criticando Vini – e não os diversos ataques racistas que o jogador já sofreu enquanto atuava no torneio presidido por ele. O senhor em questão fez um tuíte dizendo, entre outras coisas, “tentamos explicar a você o que a La Liga pode fazer em casos de racismo, mas você não compareceu nas datas”, ou seja, ele queria que Vini fosse ao encontro para tirar uma foto com ele sorrindo, enquanto ele finge que está fazendo algo de fato sobre os casos de racismo. O desejo dele é que Vini fosse ao seu encontro para ver ao vivo a condescendência da La Liga aos racistas e ouvir meia dúzia de lorotas de como eles não podem fazer nada.

O governo espanhol por sua vez também é muito omisso. O presidente do Brasil se pronunciou cobrando atitudes, da forma que um chefe de estado deve fazer para proteger seus cidadãos. Eu acredito que a Espanha já deveria ter mudado, ou criado, alguma das suas leis para punir racistas dentro e fora dos estádios. Vale lembrar que Anielle Franco assinou há poucas semanas um acordo com a Espanha justamente para aumentar a punição desse tipo de acontecimento. Veremos se na prática o governo espanhol irá se comprometer.

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Fato é que os casos ocorridos com Vinicius Junior mostram que pretos dentro de determinados países, e o Brasil não está distante disso, são apenas tolerados, desde que cumpram à risca a expectativa que os racistas têm sobre ele. Se Vini fosse um pessoa preta que não se pronunciasse contra o constante racismo sofrido por ele, se não fosse um jogador arisco, provocador, que vai para cima, se não respondesse aos racistas dentro e fora do campo, muito provavelmente não seria alvo com tanta frequência.

Em casos como esse, eu só irei acreditar na luta contra o racismo quando a Espanha sofrer sanções econômicas por não tomar atitudes drásticas em situações recorrentes, quando a La Liga sofrer multas exorbitantes por omissão, quando clubes se recusarem a entrar em campo, quando jogadores encerrarem partidas quando as torcidas forem racistas, quando clubes forem eliminados ou perderem pontos quando seus torcedores insistirem em ser preconceituosos.

Enquanto isso não acontecer é tudo medida paliativa e rasa para maquiar o racismo, fingir preocupação e continuar enchendo os bolsos com o talento de pessoas negras jogando em seus países e campeonatos.

Fonte: Redação Nós
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