Nem acredito que vou me pronunciar nesse espaço sobre isso, mas vou: acabei de ser seguido em uma loja do Salvador Shopping, em Salvador (BA). Além de expor essa situação, resolvi também mostrar como estava me vestindo. Acho importante para o contexto quando um homem preto, de chinelos e bermuda passa pelo que eu passei.
Nesta quinta-feira, 26, eu estava com minha tia, minha companheira e meu filho na loja. Enquanto elas olhavam roupas íntimas, meu filho, Akin, brincava de se esconder. Ele estava escondido naqueles cabides que ficam cheio de roupa, na seção infantil, e eu brincava de procurá-lo colocando a mão no meios das roupas.
Quando eu falo para Akin que já o tinha achado e que deveríamos ir embora dali, olho para cima e tem um segurança a cinco metros de nós. Quando o encaro, ele disfarça e começa a mexer no celular. O segurança, então, sai andando como se nada tivesse acontecido - um modo de agir padrão, não é mesmo?
Nesse momento, Akin ainda não havia saído de dentro das roupas e eu, até um pouco incisivo com ele, pedindo e o conduzindo pelo braço.
Fiquei encarando o segurança enquanto ele fingia que nada tinha ocorrido e ia para, o que me parece, um local administrativo da loja. Nesse momento, minha tia já estava na fila para pagar. Fiz questão de encará-lo até ele ver que eu estava olhando.
A compra foi feita. Acabei dando dinheiro para um estabelecimento que tem em seu quadro de colaboradores uma pessoa racista! Na hora do ocorrido, não tive reação. Depois que já tínhamos feito as compras, fui até uma mulher, que se identificou como administradora, e falei sobre o ocorrido. Eu confesso, estava meio transtornado e, talvez para provar minha inocência ou para enfatizar de que local partia a crítica, mostrei quem eu era, a exposição que meu trabalho tem, enfim o que fazia e como fazia.
A moça me pediu para ir com ela fazer uma queixa, dizer quem era, mas a verdade é que eu só queria sair da loja.
Quando conversava com a supervisora, minha tia e companheira ouviram o que eu contava. Muito compreensivelmente, elas ficaram nervosas e me puxaram para ir embora. Saindo de lá, encontrei o cara que me seguiu e perguntei o nome dele, mesmo ele estando com crachá.
O mais difícil disso tudo é que eu já estava com uma sacola de compras. Eu vou nessa loja com frequência porque lá tem muitas opções boas para pessoas gordas, inclusive era por esse motivo que estava lá hoje.
Se você está se perguntando por que não fiz a “denúncia” interna, eu explico: primeiro, porque eu estava agoniado; segundo, porque eu não tinha prova material; e terceiro - e mais importante - aquela denúncia não ia dar em nada, afinal por mais errado que o segurança tenha sido, ele estava seguindo ordens. Eu luto por uma mudança estrutural, culpar o indivíduo nessa circunstância era jogar o peso em cima de um cara que, naquele momento, era apenas uma ferramenta do verdadeiro racismo.
Não que o segurança não tenha sua parcela de culpa, mas acredito que ele ouça coisas do tipo “se tiver roubo no seu plantão, a culpa é sua.”
Então, resolvi seguir minha vida, chorar minhas lágrimas e dividir com vocês o que passa um preto no Brasil.