Neste mês, o vereador de São Paulo Camilo Cristófaro teve uma fala racista durante uma sessão na Câmara Municipal. Ele, que participava de maneira remota, esqueceu o microfone ligado e foi possível ouvir: "Não lava nem a calçada, é coisa de preto, né?". O senhor Adilson Amadeu, que presidia a sessão, tentou fazer com que a fala do seu colega passasse batida, mas foi devidamente combatido pela vereadora Luana Alves, que imediatamente apontou a conduta deplorável de Camilo. Essas, e outras condutas, vindas de políticos brasileiros levantam a questão do porque ainda elegemos pessoas racistas para nos representar.
O racismo no Brasil está alocado em todos os lugares. Países que têm sua origem diretamente ligada à escravização africana tem DNA racista. Um dos pilares fundamentais para a manutenção do racismo no Brasil são os políticos e a forma com que a política é feita. Prova disso é que a primeira Lei de Educação (1837) proibia pessoas negras de frequentarem o colégio: “Lei nº 1, de 14 de janeiro de 1837: “São proibidos de frequentar as escolas públicas: Primeiro: pessoas que padecem de moléstias contagiosas. Segundo: os escravos e os pretos africanos, ainda que sejam livres ou libertos”. E isso é só uma das várias leis criadas pelo estado para atingir direta ou indiretamente pessoas negras. Falar sobre esse passado é importante para entendermos como isso reverbera os dias de hoje. As políticas no Brasil são feitas para defender interesses de uma minoria, branca e rica, que usa a máquina do estado para benefício próprio.
Voltando ao cerne da questão: “por que ainda elegemos racistas?”, simples, porque a política no Brasil é negócio e é monopolizada por pessoas brancas assim como todos os espaços de poder. E isso não tem a ver com direita ou esquerda, não. É a política como um todo. É óbvio que existe um movimento da esquerda nas questões sociais, mas isso não os isenta, nem por um minuto, de também fazerem parte desse problema. Dois exemplos rápidos disso foi a foto que Fernando Haddad postou após derrota em 2018 agradecendo todos os políticos de esquerda que ajudaram na campanha e não tinha nenhum negro, outro exemplo mais recente foi do próprio presidente Lula, que na foto com seu vice e mais 17 pessoas, há 15 homens, 2 mulheres e nenhum negro, que reflete exatamente a politica do Brasil. E essa é uma questão antiga! No texto da grandiosa Lélia Gonzalez chamado “Racismo por omissão”, a autora já mostrava a maneira com que partidos de esquerda lidavam com as questões raciais nos anos 80.
Não, esse não é um texto contra a esquerda, tão pouco a fala de um bolsonarista, muito pelo contrário, quem o escreve tem uma relação quase que de berço com o Partido dos Trabalhadores, contudo, não podemos fechar os olhos para a realidade. O problema do racismo é para além de esquerda ou direita. Ambos os lados têm comportamentos racistas. Por mais que um lado seja mais escancarado do que outro, é constante vermos só brancos concorrendo às eleições na maioria dos partidos. Só brancos sendo nomeados secretários e ministros, só brancos sendo presidentes de partidos. A questão do racismo na política não deveria vir à tona só quando absurdos como a fala desse cidadão é dita. Porque se pararmos para pensar, desse pessoal não dá para esperar coisa diferente. As questões raciais devem, com urgência, serem pautadas nos partidos de esquerda toda vez que nos espaços de poder dos partidos não tiverem pelo menos metade das pessoas negras, representando assim o quantitativo de negros no Brasil.
Não podemos esquecer que o Brasil é um país racista, e uma nação só pode ser racista porque sua população age de tal forma. Logo, essa sociedade irá eleger pessoas que representem coisas que elas pensam, gostam e acreditam. O congresso brasileiro está fadado a ter políticos racistas. A maneira de confrontar essas pessoas racistas é elegendo pessoas pretas que tenham raça como uma das suas prioridades para que essas pessoas lutem por políticas públicas e leis que atenuem esse abismo racial que condena boa parte das pessoas pretas à subalternidade.