Quem tem direito a manifestação no Brasil?

Ainda que flerte contra a democracia, manifestantes cerceiam o direito de ir e vir de uma forma que o estado jamais permitiu

7 nov 2022 - 17h59
(atualizado às 18h06)
A lição que fica nesses últimos dias é que só é “vagabundo” quem protesta sem tentar ferir a democracia.
A lição que fica nesses últimos dias é que só é “vagabundo” quem protesta sem tentar ferir a democracia.
Foto: Reuters

Após a eleição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, várias manifestações explodiram no Brasil. Pessoas que não querem o retorno do PT ao governo pararam rodovias, estradas, entre outras coisas. Essas paralisações, que ocorrem até hoje, mas de maneira mais comedida, tiveram momentos muito surpreendentes. Momentos esses que jamais pôde ser visto quando o perfil das pessoas que protestavam era outro. Pessoas pobres, sobretudo pretas, em busca de justiça pela morte de algum parente e resolveram protestar para dar luz ao caso, jamais foram tratadas com tamanha cordialidade como vemos acontecendo hoje pelo país.

Policiais rodoviários estaduais batendo continência para manifestantes em Franca, policial federal verbalizando que não irá aplicar as multas em Santa Catarina, guardas municipais fardados participando de atos pouco democráticos em Maceió, policiais ignorando homem sendo agredido em Curitiba, polícia cortando grade, supostamente, para ajudar manifestantes em Guarulhos, policial participando de churrasco durante protesto em Sorocaba, van da polícia civil balançando bandeira do Brasil enquanto passava pelos protestos bolsonaristas em Mogi das Cruzes, são alguns dos vários casos que evidenciam a diferença de tratamento.

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Para além de todo esse envolvimento de agentes do Estado, existem outros pontos a serem pensados. Como ignorar ordem do STF, tempo que eles conseguiram deixar vias importantíssimas fechadas a ponto de um coração ter sido impedido de ser doado devido aos bloqueios, e esse só é um dos casos que esses protestos impediram de pessoas acessarem ajuda ao que tange a saúde. E tudo isso sem ter um motivo evidente e justo. Pessoas que se baseiam em fake news não por inocência, mas sim por conveniência.

Não estou falando que as polícias não fizeram nada nesses quase dez dias de Lula eleito. Até porque eles fizeram, mais de 1000 bloqueios já foram desfeitos nesse meio tempo, mas nada com a rapidez e violência que ocorre quando os protestos não são idealizados por gente branca, não periférica, que serve churrasco e bebidas a quem se dispõe a acompanhá-los. Quando protestos são feitos por professores querendo mais dinheiro para educação, quando uma mãe junta uma galera para pedir justiça por seu filho preto, quando a favela desce para reclamar da violência policial, quando as pessoas estão em busca de direitos básicos como saneamento e para chamar atenção do estado bloqueiam uma ruazinha sequer, geralmente, em menos de duas horas o "coro já comeu" e tá tudo liberado.

Dane-se que seu filho morreu, dane-se a educação e dane-se saneamento básico. O Direito de ir e vir do cidadão brasileiro, um dos direitos fundamentais, está ancorado na Constituição Federal de 1988, não pode ser ferido. Ou melhor, não pode ser ferido por você! Pois a lição que fica nesses últimos dias é que só é “vagabundo” quem protesta sem tentar ferir a democracia, porque quando o patriota de verde e amarelo parou o Brasil após uma eleição, o que se viu foi sutileza, demora e conveniência por vários agentes do estado brasileiro. 

Fonte: Redação Nós
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