Desde o BBB19 que a pauta racial vem ganhando mais visibilidade no reality e, neste ano, não está sendo diferente. Nessa reta final de programa, o abismo racial vem se agravando e algumas falas dirigidas à Sarah Aline me ajudaram a refletir sobre isso.
No jogo da discórdia da semana passada, Bruna Griphao teve a pachorra de chamar Sarah de baixa, criticar o tom ameno da sua voz durante o conflito e depois ainda falou que não a chamaria mais para o jogo porque ela fala coisas difíceis.
Domitila já tinha sinalizado como algumas pessoas da casa se surpreendem quando mulheres negras sabem se posicionar de forma assertiva e inteligente. Por que isso gera surpresa? Provavelmente porque o estereótipo racista que a grande maioria da sociedade tem sobre mulheres negras não contempla características como as citadas. Talvez essa galera acha que a mulher negra deve agir como a Bruna. Só que, em um país racista, determinado tipo de conduta condena pessoas negras enquanto “humaniza” pessoas brancas.
Sarah foi vista por muitos como planta, apesar de ter um jogo, ao meu ver, bem inteligente. Concordo que ela não era a protagonista da edição, mas já fazia muito mais do que a favorita de muita gente por aí. Sarah é inteligente, bonita, sabe falar, faz parte do casal mais amoroso da edição, ficou com mais de uma pessoa na casa, não xinga, não grita, fala sobre jogo e muitas outras características que, sem dúvida, em um corpo como o da Bruna, a faria favorita para ganhar essa edição.
Ainda seguindo essa lógica, convido vocês a refletirem qual seria a interpretação que uma mulher negra com o comportamento da Bruna teria: uma mulher negra que fosse desorganizada, que usasse palavrões como se fosse vírgula, que gritasse, xingasse, colocasse dedo na cara, chamasse outra mulher de militante de araque e muitas outras características. Sem dúvida, em um corpo como o da Sarah, seria a vilã dessa edição.
Inclusive, acredito muito que a Sarah é o ponto fraco da Bruna justamente por não cair nesse jogo que ela fez muitas vezes ao longo do programa, que consiste em ficar com rusga de alguém, se destemperar, fazer com que o outro também se destempere, brigue, grite e depois chora e se faz de coitada. A Sarah Aline, por não ter entrado nesse jogo, deixou Bruna sem saber como agir, porque em momento algum ela gritou, xingou e foi baixa, apesar de Bruna ter dito que ela foi. Um cara que caiu muito nesse jogo da Bruna foi o Alface.
A Sarah é uma psicóloga que trabalha diversidade dentro de empresas. Ela vê diariamente como as interpretações mudam quando as mesmas coisas são ditas por corpos diferentes. Com isso não estou dizendo que a Bruna tem que agir de determinada forma, muito pelo contrário, minha intenção é que todas as pessoas, independente de raça, gênero ou sexualidade, possam ser o que quiserem sem se preocupar com julgamentos deterministas de terceiros.
É triste perceber que por mais que o BBB tenha equiparado a quantidade de negros e brancos dentro do programa, as interpretações e julgamentos que o publico - e os participantes - fazem das pessoas lá dentro seguem sob uma lente racista. Enquanto a sociedade não mudar sua leitura sobre corpos negros, seguiremos assistindo pessoas brancas sendo exaltadas pelo mínimo e pessoas negras sendo canceladas por nada.
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