Você confronta seu amigo machista?

Melhor presente para as mulheres é uma sociedade menos desigual

8 mar 2022 - 07h00
(atualizado às 11h32)
Recentemente, vazou um áudio do deputado estadual Arthur do Val sendo machista, racista e elitista em menos de três minutos. Será que os amigos do grupo ficaram quietos?
Recentemente, vazou um áudio do deputado estadual Arthur do Val sendo machista, racista e elitista em menos de três minutos. Será que os amigos do grupo ficaram quietos?
Foto: RD1

Na semana do oito de março, dia que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, acredito que meu texto deva ser direcionado para nós, homens, que apesar de entendermos que existe opressão de gênero e que ela, estruturalmente, nos da privilégios ainda fazemos poucos movimentos contundentes para que essa opressão seja extinta ou reduzida.

Começo com uma pergunta muito importante, em quantas mulheres você se inspira? Qual a mulher na sua área de trabalho é referência? Se há mulheres, quantas são negras? Quantas são mulheres trans ou travestis? O Dia da Mulher deveria ser, para além da comemoração convencional, um dia para refletir sobre a luta histórica das mulheres e se os direitos delas estão sendo alcançados.

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E não, não estou falando que você não deva levar as mulheres da sua vida para um jantar especial ou que você não deva presenteá-las. O que estou tentando alertar é que não devemos ficar só nisso.

No dia a dia você se responsabiliza pela limpeza da casa ou você deixa todas as tarefas domésticas para sua mãe ou esposa? Você escuta sua irmã falar sobre as questões de gênero e como isso afeta a vida dela ou você minimiza os acontecimentos e pede para ela relevar? Você denuncia possíveis assédios morais que ocorrem com mulheres dentro do seu ambiente de trabalho ou se cala, afinal, não é da sua conta? Já pensou que o melhor presente para as mulheres pode ser uma sociedade menos desigual?

Não dá, a essa altura do campeonato, para se esconder atrás do discurso de que não é machista, tá? O patriarcado é estrutural e estruturante. Todos os indivíduos inseridos em uma sociedade em que a opressão de gênero é institucionalizada estão fadados a produzirem, ou reproduzirem, as lógicas dela.

O fato de você não agredir sua companheira, e falar isso como se fosse algo incrível, não muda o fato de que a cada 8 minutos uma mulher é agredida, o fato de você também se responsabilizar pelos serviços domésticos, não muda o fato de que mulheres tem uma carga horária semanal maior do que a do homem e que são elas a maioria das pessoas que tem rotina dupla ou tripla, assim como o fato de sua superior ser uma mulher não mudar o fato que mulheres negras recebem menos da metade do salário dos homens brancos no Brasil. Entende que o que devemos combater não é você, o indivíduo. O que precisamos combater é estrutura que coloca mulheres em situação de vulnerabilidade e subalternidade.

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Entender o patriarcado, se admitir machista, ter a consciência que temos o privilégio por ser homem, repreender nossos amiguinhos quando fazem piadinhas sexistas, consumir conteúdos produzidos por mulheres são alguns dos vários movimentos que nós, homens, devemos fazer diariamente. O oito de março é um dia importantíssimo, mas as condutas para emancipação feminina devem ser feitas durante todo o ano.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
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