Fernanda Bande protagonizou uma das brigas da semana no BBB24 ao lado da paraense Alane e justo num momento em que estava numa trajetória ascendente dentro do reality. No meio de uma discussão com a paraense, Fernanda soltou que a colega de confinamento estava "molinha" e deveria malhar mais o corpo.
Na hora, Alane subiu o tom, indignada. "Você não tem o direito de julgar o corpo alheio. Jamais julgaria seu corpo", disse ela. A atitude da sister revela uma espécie de consciência de classe. Apesar da palavra sororidade não ter sido dita textualmente, não é a primeira vez que o termo é invocado dentro do programa.
A cantora Manu Gavassi do BBB20 usou o termo para justificar o voto em Felipe Prior. O ex-brother nunca tinha ouvido falar de sororidade antes. Também me lembro de Juliette defender Carla Diaz por uma questão de sororidade. Mesmo sem saber detalhes do relacionamento turbulento que a ex-chiquitita vivia dentro da casa, a paraibana alegou que, por princípio, fechava com a sister.
Sororidade significa priorizar mulheres. É dar apoio e dizer "eu acredito em você". É fortalecer laços com quem compartilhamos as mesmas experiências. Por maiores que sejam as diferenças, há um elo gigante que nos une somente pelo fato de que a opressão à mulher existe desde que o mundo é mundo. Por isso, é fácil se reconhecer em outra mulher e pensar "isso já aconteceu comigo". A gente acaba adquirindo uma consciência de classe, porque as histórias são universais e se repetem há séculos.
Mas sororidade não é apenas uma atividade terapêutica que serve para aliviar o fardo de ser mulher. Também significa resistência e combustível para mudar o estado das coisas. Quando há solidariedade feminina, torna-se mais fácil parar de ser subserviente aos desejos dos outros. Não é porque o outro quer que temos que ceder às pressões e transformar a nossa existência num inferno, em busca de algo sabidamente inatingível. Melhor exemplo, é o corpo feminino que sempre foi tratado como propriedade alheia.
Assim que a briga estourou na tarde da última quarta-feira, 31, pipocaram os testemunhos sobre as consequências de dedicar uma existência se preocupando com o que os outros vão pensar de seu corpo. Yasmin Brunet contou numa rodinha que já sofreu de anorexia na tentativa de ser magra. Foi apenas no BBB que ligou o famoso "f*da-se". Longe dali, Alane comentou que lutou muito para conseguir dançar sem ter o "padrão" da bailarina. Até Fernanda, a fiscal da flacidez alheia, confessou à amiga Pitel que já ouviu horrores sobre o seu corpo, na época em que tentava emplacar uma carreira de modelo.
Não existe nenhum propósito em viver atormentada por pensamentos que arremessam a confiança lá embaixo, fazendo a gente se sentir insegura e inadequada. Mas se as mulheres dizem em uníssono "chega, deu, cansei", a mudança de mentalidade se torna mais possível - e vamos combinar que já passou da hora de colocar um ponto final neste tormento.
Por mais clichê que possa soar, lembrei do monólogo de Glória, a personagem da atriz America Ferrera em "Barbie" (2023), quando fala "estou cansada de ver a mim mesma e a todas as outras mulheres se esforçando para que as pessoas gostem de nós". A salvação certamente está em atender um chamado universal: "mulheres do mundo, uni-vos".