Descobri recentemente a existência da expressão "boy sober" que, numa tradução literal, significa sóbria de garotos. A conotação de sobriedade aqui é a mesma usada para falar de quem está livre de uma dependência como álcool, livre de uma droga que pode levar o usuário(a) a perder o controle.
Leio que a atitude intencional de ficar "boy sober", com ou sem prazo definido, começou como uma trend no Tik Tok. Mas rapidamente virou assunto em matérias de jornais e revistas porque mais e mais mulheres heterossexuais jovens e solteiras, injuriadas com o rumo de suas vidas sentimentais, passaram a considerar que dar um tempo de encontros, namoros, relacionamentos afetivos em geral, seria uma boa ideia.
Quais os motivos por trás dessa tendência de comportamento que estimula mulheres a fazerem detox de apps de namoro e a pausarem a busca por caras incríveis que nunca aparecem? A ideia é valorizar outras coisas importantes, como as amizades, e ter um pouco de paz, sem se deixar contaminar pela frustração de encontros que prometem muito e 'entregam' pouco.
Ficar sóbria, nesse caso, é ser resgatada de uma rotina que parece um eterno looping dos episódios de "Sex and the City", a série lançada 26 anos atrás e que nos apresentou Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte, as quatro amigas de Nova York que protagonizam uma sequência de encontros e paixões iminentes, mas que na maioria das vezes têm suas expectativas não correspondidas.
Recentemente, "Sex and The City" ganhou uma segunda vida com suas 6 temporadas disponíveis na Netflix (também está no Max). Por causa disso, revi alguns episódios antigos. Além dos problemas já apontados pela crítica (falta de diversidade e falas problemáticas, por exemplo), achei algumas discussões um pouco ultrapassadas.
Na estréia da série, enquanto escreve sua coluna sobre sexo e aborda as diferenças entre gêneros, Carrie lança a tradicional pergunta que dá o tom de cada episódio. No primeiro, ela questiona: "por que há tantas mulheres incríveis solteiras e nenhum homem incrível solteiro?".
Por mais que fossem bem sucedidas e unidas por uma amizade bacana, ao rever a série me pareceu que Carrie e cia gastavam muita energia na busca de alguém com toda a pinta de alma gêmea. Sem ele, talvez a vida das personagens não estaria completa. A solteirice era divertida, mas passageira, uma entressafra enquanto o parceiro ideal não aparecia. Afinal, ele tinha que existir.
O que as gerações mais novas talvez estejam descobrindo, aos poucos, é que dedicar uma existência ao tal encontro da alma gêmea pode ser uma grande roubada. A exemplo do que já acontece com os adultos com mais de 50 anos, também os casamentos parecem não entusiasmar tanto as mulheres mais jovens, na faixa dos 30.
Para as que estão nas redes relatando as dificuldades em se relacionar com homens héteros, o cenário é bem diferente das comédias românticas com as quais crescemos. A minha geração, por exemplo, teve um farto cardápio de filmes com Meg Ryan fazendo a personagem que encontrava o amor da forma menos esperada.
Por mais que histórias de "felizes para sempre" tenham atormentado mulheres que não se sentiram flechadas pelo Cupido, tudo muda à medida que se envelhece. Aliás, uma das vantagens de envelhecer é adquirir a consciência de que estigmas estão aí para serem ignorados. Por que perder tempo se preocupando com a visão equivocada e estigmatizada de que mulher solteira é sinônimo de fracasso, de alguém que foi preterida pelos homens? Escolher a liberdade, a autonomia não tem nada de fracasso. Pelo contrário.
Faço coro à turma dos 50 + que considera que a vida tem que ser vivida da melhor maneira possível. Com ou sem parceiro.