Dia da Mulher: homenagens, sim, e direitos também

No Mês da Mulher, somos lembradas de que há um longo caminho na direção da igualdade de gênero

8 mar 2023 - 05h00
Para nós mulheres sermos respeitadas como cidadãs em toda plenitude, precisamos muito mais do que flores distribuídas na porta de um estabelecimento qualquer
Para nós mulheres sermos respeitadas como cidadãs em toda plenitude, precisamos muito mais do que flores distribuídas na porta de um estabelecimento qualquer
Foto: iStock

Basta chegar 8 de março para as mulheres ouvirem, logo nas primeiras horas do dia, a clássica frase "parabéns pelo seu dia". E tome botão de rosas, mensagens de apoio, lembrancinhas de todos os tipos para exaltar como é legal ser mulher, como bancos, lojas e a metade da população masculina são gratos à nossa existência. 

Lembro de uma vez, numa emissora de televisão onde eu trabalhava, que as mulheres foram presenteadas com sabonete íntimo na data. Não demorou muito para que nós estivéssemos fazendo piada sobre isso. Que tipo de mensagem poderia haver naquela homenagem pensada pelo RH da empresa? Se fosse hoje, o episódio talvez viralizasse nas redes sociais. Mas, na época, achamos que era uma falta de noção típica de uma empresa famosa pela falta de noção. 

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O mundo do trabalho é mais um dos ambientes em que as distorções entre gêneros ficam amplificadas. Quando ainda era uma estudante na faculdade, o fato de ser uma mulher aspirante à jornalista não era uma questão que causasse grandes indagações em mim. Tinha a sensação de que o gênero não seria determinante para encontrar uma oportunidade de trabalho. E ela veio antes mesmo de eu terminar a faculdade.

Mas no mesmo lugar onde encontrei uma chance de crescer profissionalmente, encontrei mulheres que, apesar de serem a maioria, não estavam na mesa da chefia. Onde ouvi, quase incrédula, que homens na frente do vídeo traziam mais credibilidade à notícia. Onde conheci mulheres super dedicadas que se tornaram mães e, quando voltaram ao trabalho, foram dispensadas sem qualquer constrangimento. Onde mulheres que envelheceram, passaram a ser tratadas como se não tivessem muito mais a acrescentar. Sem mencionar a disparidade de salários. 

De acordo com os dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE,  as mulheres no Brasil ganham 20% a menos do que os homens, mesmo ocupando funções iguais e tendo nível de escolaridade muitas vezes maior. Em média, a hora trabalhada de uma mulher é menor remunerada.

Na prática significa dizer que nosso trabalho vale menos do que o de um homem? E por qual motivo? Pesquisadores atribuem a facilidade de homens conseguirem cargos com salários mais altos por não serem tão sobrecarregados por jornadas duplas ou triplas, como acontece com as mulheres. O excesso de tarefas não remuneradas, atribuídas às mulheres, como cuidar da casa, dos filhos, dos pais, limitam as oportunidades de conseguir uma colocação melhor no mercado de trabalho. Não temos o mesmo poder de barganha.  

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É uma estrutura social que ainda nos afeta de forma desproporcional. Não é à toa que nos tornamos feministas de uma maneira quase natural. Não precisamos estar dentro de um movimento organizado e com uma pauta de reivindicações clara para ter consciência de que muita coisa precisa mudar. 

O Dia Internacional da Mulher foi adotado exatamente para isso, para chamar a atenção ao que acontece às mulheres nos outros 364 dias do ano no mundo todo. O episódio que deu origem à data, aconteceu em 1908, quando 15 mil mulheres tomaram às ruas de Nova York para reivindicar jornadas de trabalho mais curtas, melhores salários e direito ao voto. A data foi proposta formalmente, em 1910,  pela feminista alemã Clara Zetkin, durante um congresso que reuniu mulheres socilaistas em Copenhague, na Dinamarca. 

Mais de um século depois, o mundo ainda se vê às voltas com uma desigualdade gritante entre mulheres e homens. É intolerável, por exemplo, que mulheres afegãs sejam proibidas de trabalhar ou de estudar. Da mesma forma é revoltante saber que cerca de mil meninas iranianas foram envenenadas recentemente dentro da escola, depois que esses locais foram palco de protestos liderados por mulheres por igualdade de direitos. E o que dizer do Brasil, onde uma mulher é agredida a cada 4 horas, na maioria dos casos por seus companheiros ou ex-companheiros?  

Ainda há um longo caminho pela frente, mas muitas de nossas conquistas como o direito ao voto, licença parental, se devem à coragem dessas primeiras feministas. Queremos homenagens porque a luta vem de longe. Mas para sermos respeitadas como cidadãs em toda plenitude, precisamos muito mais do que flores distribuídas na porta de um estabelecimento qualquer.

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Fonte: Redação Nós
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