Luana Andrade: a crueldade da busca por um corpo inalcançável

Ainda falta um caminho para que as mulheres se libertem dessa violência que é passar a vida se sentindo inadequadas com seu próprio corpo

8 nov 2023 - 16h33
A influenciadora Luana Andrade morreu aos 29 anos durante uma lipoaspiração para retirar gordura do joelho
A influenciadora Luana Andrade morreu aos 29 anos durante uma lipoaspiração para retirar gordura do joelho
Foto: Reprodução/Instagram/@luandradel / Estadão

Toda vez que avisto mulheres jovens exibindo confiantes suas formas físicas, que passariam longe do chamado padrão, penso no quanto elas são felizes por viver numa época que abraçou um pouco mais a diversidade. Elas estão nas academias, na badalada, nos shoppings demonstrando uma atitude de aceitação de seus corpos, independente do que é socialmente considerado bonito. Num gesto quase político, são mulheres que decidiram ficar em paz com as gordurinhas localizadas, celulites, estrias e não se submeter à tirania do corpo inalcançável. 

Se por um lado podemos celebrar essa conquista feminina, por outro, assistimos com tristeza que o ideal da mulher magra continue fazendo vítimas. Ainda falta um caminho para que as mulheres se libertem dessa violência que é passar a vida se sentindo inadequadas com seu próprio corpo, submetendo-se a dietas de fome e procedimentos estéticos em nome de um padrão inalcançável. 

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Por que temos que odiar aquilo que somos? Por que nos martirizar achando que somente com mudanças na aparência seremos aceitas e felizes? Até quando vamos nos deixar levar por esse pensamento? 

Bate uma tristeza profunda toda vez que vemos a notícia da morte de mais uma mulher que se submeteu aos riscos de uma cirurgia porque estava incomodada com a aparência. No caso de Luana Andrade, influenciadora e assistente de palco do programa “Domingo Legal” do SBT, era uma gordura na região do joelho que a incomodava. 

Luana deu entrada no hospital acompanhada do namorado e da mãe. Segundo o empresário da influenciadora, há tempos ela tinha programado fazer uma lipoaspiração que retiraria uma quantidade pequena de gordura de seus joelhos. Mas, no meio da cirurgia, que não seria muito demorada, o médico teve que interromper o procedimento. Luana Andrade sofreu uma "intercorrência abrupta respiratória e teve uma parada cardíaca", segundo nota do Hospital São Luiz, onde foi operada. A equipe médica ainda tentou reanimá-la, sem sucesso. 

O caso de Luana também reforça o alerta de que toda cirurgia estética, por mais segura e simples que pareça, não está livre de riscos. Não dá para banalizar esses procedimentos tratando como algo corriqueiro. Não é tipo "vou ali fazer uma lipo e já volto", semelhante a uma ida à manicure na hora do almoço, como pintam alguns. Mesmo parecendo um procedimento simples, as complicações quando surgem podem ser bem graves e levar à morte, como aconteceu com Luana. 

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Não me cabe aqui especular sobre os critérios que ditaram a escolha da influencer pelo profissional que a operou. Mas é preciso ressaltar que com frequência sabemos de médicos com milhares de seguidores nas redes sociais que surfam nessa obsessão feminina do dito corpo perfeito. Lotam seus perfis do Instagram com fotos de 'antes e depois', cobram preços acessíveis, vendem uma ideia de que tudo é muito tranquilo.

É preciso lembrar que escolher um profissional com base em imagens do Instagram, que podem ser manipuladas ou ser de qualquer paciente na internet, está longe de ser seguro. Vira e mexe temos notícia de médico popular nas redes cometendo barbaridades com pacientes. Além da indignação, vem a pergunta infalível: será que valia arriscar a vida em nome do que se convencionou chamar de beleza? 

Em vez das mulheres odiarem seus corpos, melhor seria odiar a cultura cruel e violenta que sempre esteve por trás do ideal do corpo inatingível.

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Fonte: Redação Nós
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