A rápida presença de Madonna ao lado de bailarinos e dos filhos na passagem de som que a estrela fez na noite de quinta-feira, na estrutura montada na praia de Copacabana, reacendeu vários sentimentos. Posso afirmar que muitos próximos daqueles que Madonna costumava provocar a cada novo trabalho lançado e promovia uma reinvenção se sua própria imagem.
E foram muitas as fases da estrela nos 40 anos de serviços prestados à música. De cantora pop e rainha das pistas de dança a ícone das liberdades individuais, Madonna sempre testou os limites de até onde podia ir para se expressar. Não à toa entrou para a galeria das figuras mais relevantes do século 20 e se manteve assim na virada dele.
Meu palpite é que já estamos um pouco 'madonnizados', incluindo quem torce o nariz para a presença de Madonna em terras brasileiras. Até os que se indignaram com as reclamações de Madonna sobre o calor carioca e a zueira que virou a frente do hotel onde está hospedada podem se render ao escutarem os primeiros acordes de Nothing Really Matters, música que Madonna canta logo após o número de abertura da "Celebration Tour".
O show de Copacabana, que promete ser o maior da carreira da artista em termos de público, encerra a turnê que começou em outubro do ano passado e percorreu cidades da Europa e Estados Unidos antes de desembarcar no México e, por fim, no Brasil. Será um show histórico, como definiu a cantora Anitta, que desistiu de ir ao Met Gala para participar da apresentação.
A seguir, explico alguns bons motivos para passar a noite de sábado (04) em companhia da estrela:
Chuva de hits
Madonna fez, ao longo da turnê, algumas mudanças no setlist dependendo do lugar onde se apresentava. No Brasil, especula-se que vá fazer o mesmo nas mais de duas horas de apresentação. A sequência escolhida não segue uma ordem cronológica, o que reforça que Madonna não cedeu a uma fórmula mais fácil para celebrar quatro décadas na música.
Vai ser interessante, por exemplo, ver como sucessos como La Isla Bonita ganham interlúdios de outros hits, como "Music", com novas roupagens e orquestrações até chegar em Bedtime Story. Minha expectativa maior é conferir qual tratamento foi dado a Like a Prayer, uma das melhores cancões da estrela, com aquele clipe inesquecível em que Madonna beija um homem negro na cruz acompanhada por coro gospel. Guardo com maior carinho o álbum de mesmo nome (1989), um LP cuja capa vinha com cheiro de patchuli. Será uma chuva de hits e de boas memórias.
Longevidade da estrela
Não é porque Madonna está com 65 anos que deixou de protagonizar cenas 'calientes', com direito a pegação e, digamos, 'mãos bobas' em suas coreografias. A material girl envelheceu diante do público como a Madonna de sempre, como a artista rebelde, provocadora, sexy, sensual, atrevida… A lista de adjetivos para defini-la é enorme.
Isso é bastante único no cenário da música pop, liderado por suas sucessoras mais jovens como Taylor Swift. Madonna parece ter feito a coisa mais natural para ela, que era seguir sendo assim, como se dissesse "ainda sou um símbolo sexual, bitches e lidem com isso". No entanto, a carreira de Madonna exigiu também enormes sacrifícios físicos para conseguir dançar em longas turnês e em meses e meses de ensaios extenuantes.
Todo mundo sabe o quanto ela era famosa por exigir um nível absurdo de perfeccionismo dela e de quem trabalhasse com ela. Em "Celebration Tour", Madonna pode não dançar como antes, mas se mantém em boa parte das coreografias em saltos altos, o que para mim já é um assombro.
Festa garantida
Não tem como escapar. Os shows de Madonna sempre foram sinônimo de entretenimento de altíssimo nível e um convite para o público se jogar como se estivesse numa pista de dança. Na "Celebration Tour", a história se repete. Tomara que o calor escaldante do Rio de Janeiro não interfira na performance da cantora.
Além do calor que já derruba qualquer um, os figurinos do show não foram exatamente desenhados para dar conforto num calor de 35 graus. Me dá suor só de pensar em dançar debaixo de maquiagem pesada e tendo que fazer inúmeras trocas de looks, como se enfiar num catsuit (macacão que cobre todo o corpo), cheio de espelhos, numa noite de calor intensa.
Mas a festa promovida por Madonna tem tudo para triunfar. Bem que a icônica praia de Copacabana, estava merecendo dias mais alegres, com mais diversidade e menos reacionarismo. Com mais cores além do duvidoso verde e amarelo que andou pelas ruas do bairro recentemente, que tem a ver mais com o obscurantismo do que com o desejo de dias melhores. Um salve para diversão. Um viva para a festa. Sempre. E, antes que me esqueça, longa vida à rainha.