Qual o limite na busca por uma aparência jovem?

Não existe possibilidade de ser plenamente feliz com doses tão grandes de desprezo e insatisfação dirigidas a nós mesmas

30 set 2024 - 18h09
(atualizado em 1/10/2024 às 11h01)
Atormentada pela possibilidade de envelhecer e sumir de cena, a personagem de Demi faz um experimento para continuar "jovem".
Atormentada pela possibilidade de envelhecer e sumir de cena, a personagem de Demi faz um experimento para continuar "jovem".
Foto: Filmow

"Você trocaria sua sabedoria por um bumbum durinho?", indaga a atriz Demi Moore à repórter do New York Times no podcast The Interview, por ocasião do lançamento de A Substância (2024). O filme dirigido pela francesa Coralie Fargeat é um misto de terror e ficção científica com a atriz de Ghost, Striptease e Proposta Indecente à frente do elenco. 

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Aos 62 anos, Demi, que já foi umas das atrizes mais bem pagas de Hollywood, é Elisabeth Sparkle, uma estrela de um programa de ginástica na TV. Mas ao fazer 50 anos, Elisabeth descobre que sua carreira glamourosa no mundo do entretenimento está próxima do fim. Um executivo do ramo, vivido por Dennis Quaid, canta a bola à personagem: "aos 50, acabou".  

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Atormentada pela possibilidade de envelhecer e sumir de cena, a personagem de Demi faz um experimento aplicando um líquido verde, chamado 'Activador'. A promessa é que a tal substância consiga gerar uma versão melhor, mais jovem, mais bela, com todos os predicados que, em teoria, estariam associados à juventude. Com isso, fica a pergunta: até onde iríamos, para perseguir uma aparência mais jovem, nos torturando, como se estivéssemos numa guerra permanente com a nossa própria imagem? 

Tudo bem que a narrativa do filme é deliberadamente exagerada. Carrega nas tintas para jogar luz sobre o tema de como mulheres podem abrir mão de sua autonomia para ficarem reféns de padrões de beleza inalcançáveis. Tais padrões nada mais são do que uma ferramenta de controle permanente que, a cada nova geração de mulheres, perpetua a ideia de que só seremos relevantes enquanto tivermos com uma aparência jovial. Depois disso, a invisibilidade nos espera. 

Mas, para felicidade geral da nação, atualmente estamos acordando para a realidade. Não existe possibilidade de ser plenamente feliz com doses tão grandes de autodesprezo e insatisfação dirigidas a nós mesmas. O termo etarismo e seus efeitos maléficos têm se tornado muito mais populares em conversas, em publicações na mídia. Há um debate muito maior sobre assunto do que uma década atrás. 

Até a própria indústria do showbiz, da qual Demi Moore é um emblema por ter se sujeitado a abusos em nome da aparência, parece estar no caminho de abraçar uma diversidade maior. Na cerimônia do Emmy, que aconteceu em setembro e premiou os melhores da TV e do streaming, a maioria das vencedoras eram mulheres com mais de 50 anos. 

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Jean Smart da série Hacks (73 anos), Jodie Foster de True Detective (61 anos) e Liza Colón- Zayas, a Tina de O Urso (52 anos), são atrizes majestosas e que arrancaram aplausos acalorados da platéia ao terem seus nomes anunciados. Suas belas atuações são resultado de décadas de experiência. O brilho de suas performances têm ligação direta com a maturidade que atingiram. 

Não acredito que o bumbum durinho, sobre o qual Demi Moore se refere em entrevista,  esteja no topo das preocupações de atrizes maduras quando estão, no exercício do ofício, à frente de papéis complexos. Não consigo imaginar Meryl Streep cogitando a possibilidade de trocar a sabedoria que adquiriu ao longo dos anos, as experiências vividas nas telas e fora delas, por um detalhe físico. 

Mas por outro lado, é lamentável que existam celebridades como Kim Kardashian, com um poder de influência considerável, que não se constrange  em dizer que comeria até cocô para se manter jovem.

Nada mais triste do que constatar que existem meninas aos 11, 13 anos, obcecadas por produtos de skincare e procedimentos estéticos. São vítimas fáceis das imagens que chegam pelas redes sociais e que vendem a ideia da perfeição a qualquer preço.

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Enquanto houver mulheres dispostas a dar continuidade a essa ditadura da beleza, seremos um pouco Elisabeth, a protagonista do filme de Demi Moore, incapazes de abraçar a própria história e identidade. 

Fonte: Redação Nós
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