"Respeitem a nossa privacidade" tornou- se uma frase comum para comunicar a separação de um casal de celebridades. Mas, diante das últimas notícias envolvendo alguns casais famosos, a privacidade é a primeira a ir para os ares quando bate aquela tentação de detonar o ex na tentativa de que o público veja um lado menos conhecido da personalidade em questão. Assim fez Luana Piovani com o ex Pedro Scooby, pai de seus 3 filhos, revelando através de prints de mensagens trocadas, que o surfista e ex-BBB dá uma procrastinada quando o assunto é bancar as despesas dos filhos. Luana usou seu poder nas redes sociais, com quase 5 milhões de seguidores, para colocar a boca no trombone.
Agora, em escala mundial, Shakira usa as plataformas de streaming para escancarar, através da canção "Shakira: Bzrp Music Sessions, Vol 53", que o ex- companheiro Gerard Piqué aprontou poucas e boas. Entre elas, cometeu a maldade de fazer a cantora colombiana viver próxima da sogra em Barcelona. Pobrecita. Piqué também teria responsabilidade sobre os problemas da artista com a Receita Federal da Espanha. Além disso, a cantora aproveitou a letra da canção para dizer que o ex parece não gostar muito de exercitar o cérebro, apenas o corpo.
Shakira já tinha cantado a bola de que, para ela, escrever música era como ir ao analista. Ao falar pela primeira vez sobre o fim do casamento com Piqué, no final do ano passado, quando foi capa da revista Elle, a artista comparou a música a um bote salva vidas que a resgata nos momentos em que sente que está afundando. Ela não está sozinha neste barco: estrelas pop como Miley Cyrus e Taylor Swift fazem o mesmo.
Ao dizer isso, Shakira talvez estivesse amadurecendo a ideia de falar cobras e lagartos sobre o ex- marido, depois que o sonho de um casamento duradouro foi por água abaixo. Piqué assumiu a relação com Clara Chia, 23 anos, assim que o casamento com Shakira terminou, reforçando que a relação extraconjugal já rolava há algum tempo.
Na ocasião, a estrela pop também afirmou que a prioridade era proteger os filhos Milan, 10 anos, e Sasha, 7 anos, de ouvir coisas desagradáveis sobre a separação dos pais. Segundo contou na entrevista, ela tentou esconder ao máximo dos pequenos as dores decorrentes da separação. Pelo visto, tudo isso implodiu no momento em que escreveu a letra de seu novo single e resolveu gravá-lo em estúdio em parceria com o DJ argentino Bizarrap.
A situação, guardada as devidas proporções, remete um pouco às críticas feitas a Meghan e Harry recentemente. Se o príncipe e a ex-atriz não queriam mais ver suas vidas expostas, a ponto de se desligarem das funções reais, por que atrair essa mesma exposição contando os sórdidos bastidores palacianos em série documental e livro de memórias? Foi uma forma de curar as feridas ou só um desejo de dar um troco bem dado em quem supostamente os fez sofrer?
A resposta pode estar na maneira como celebridades - ou as gerações mais novas - encaram o significado de privacidade. Quem sabe manter aspectos da vida pessoal de forma mais reservada seja agora um conceito arcaico. A privacidade já não seria vista como requisito básico para uma vida realmente livre, longe dos olhares e do julgamento de outras pessoas. As redes sociais estão aí para comprovar isso, um ambiente onde a privacidade é oferecida como um espetáculo diariamente. A privacidade talvez esteja relacionada mais à liberdade de mostrar somente a versão que interessa, tendo o controle total sobre a narrativa.
Mas há um outro fator a ser levado em conta. Ninguém resiste a um bom drama, daqueles que aproximam a celebridade da pessoa não famosa. Intrigas sinceras nos interessam e muito. Ciúmes entre irmãos, traições entre casais, dores de amores, tudo o que rende um bom roteiro são questões universais. Se até a Shakira é traída, isso traz um certo conforto a outras mulheres que, a exemplo da colombiana, foram as últimas a saber da infidelidade de seus parceiros.
Convenhamos, é dureza descobrir uma traição que acontecia dentro da própria casa e com a amante comendo da geleia preferida da outra. Todo mundo está sujeito a se apaixonar por outra pessoa estando numa relação, mas a mentira é que pega mais nesse caso. Você ser induzida a achar que está tudo bem no relacionamento, quando na verdade há uma relação de intimidade e afeto correndo por fora, é uma história difícil de digerir.
O melhor resumo de como o público reagiu à lavação de roupa suja está num vídeo de uma moça que dizia estar numa relação saudável, mas que se pegou cantando a música de Shakira a plenos pulmões, totalmente indignada. O comentário indica que a maioria tomou as dores de Shakira e não viu mal algum no fato da cantora diminuir a atual de Piqué. Formou-se um tipo de corrente de solidariedade em torno da estrela.
Para piorar a situação do ex-jogador, surgiu um vídeo em que ele aparece repreendendo Shakira em público, só porque a ex-mulher estava se divertindo desenhando corações no ar com as mãos. A cena foi editada junto com uma outra em que a Miley Cyrus também é chamada a atenção pelo ex-marido, o ator Liam Hemsworth, depois que ela dá uma lambida no ombro dele. O vídeo não é prova de nada, mas o comportamento controlador de ambos é péssimo.
Shakira, assim como Miley, usa a música para exorcizar os traumas de uma relação que entrou em colapso e saírem mais fortes da história. Até aqui, a estratégia deu certo. Em menos de uma semana de lançamento, a música de Shakira se tornou uma das mais ouvidas no mundo. Só no YouTube, o vídeo atingiu mais de 150 milhões de visualizações. Além disso, causou um furdunço na vida do ex e da nova namorada, que desativou sua conta no Instagram.
Por mais terapêutica que seja a música, por mais que Shakira se divirta cantando "as mulheres não choram, as mulheres faturam" é na quietude da privacidade que a alma se acalma de fato. É onde o tempo faz sua mágica curando as feridas.
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