No último dia 25 de abril, uma grave denúncia foi feita pela liderança Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), que publicou um vídeo nas redes sociais dizendo que recebeu relatos de violências praticadas por garimpeiros ilegais que invadiram o território na região de Waikás.
No vídeo, Júnior Hekurari Yanomami conta, com base em informações recebidas por ele via rádio de pessoas da região, que os garimpeiros estupraram uma menina de 12 anos até a morte e uma criança de 3 anos teria caído no rio durante a confusão e o seu corpo não havia sido encontrado. Na manhã seguinte, dia 26, foi comunicado por meio de ofício para o Ministério Público Federal, Funai e Polícia Federal sobre o caso.
Depois da denúncia, uma comitiva da Polícia Federal junto ao Júnior Hekurari Yanomami, foram até a aldeia de Aracaçá, onde aconteceu toda a violência. Ao chegarem na aldeia, se depararam com ela toda queimada e vazia. Cerca de 25 indígenas Yanomamis desapareceram e até o momento não se tem a confirmação do real motivo pelo desaparecimento, se estão vivos ou não.
A invasão por garimpeiros na região acontece desde dos anos 1970, patrocinada pelos militares e em plena ditadura. Em 1993, aconteceu o assassinato de 16 Yanomami da aldeia Haximu, na Venezuela. Dos 23 garimpeiros acusados pelos massacre e extração ilegal de ouro, apenas 5 foram condenados. Alguns desses criminosos atuam hoje dentro da TI Yanomami, na parte brasileira. A área desmatada pelos garimpeiros na terra indígena cresceu 46% em 2021, sendo o maior crescimento observado desde quando se iniciou o monitoramento na T.I. em 2018.
Importante ressaltar que o crescimento de invasões de garimpeiros em terras indígenas após as declarações do presidente Jair Bolsonaro favoráveis a eles e à proposta, atualmente em discussão no Congresso, de legalizar a mineração em terras indígenas. Segundo o procurador Alisson Marugal do MPF, mais de 20 mil garimpeiros estariam atuando dentro da terra indígena.
“Os garimpeiros tomaram conta da nossa terra. Eles têm 3.500 pontos de logística em nosso território tradicional, 800 currutelas, cada uma com 15 a 20 prostitutas brancas, em festas com forró, em bares. Violentam mulheres e meninas Yanomami. E as autoridades querem um corpo, querem provas, para tomarem providencias”, declarou Júnior Yanomami.
Os Yanomami estão aterrorizados com tanta violência, o garimpo está matando os Yanomami, os rios e a floresta. Os garimpeiros ameaçam os indígenas em um vídeo gravado por Junior Yanomami, que mostra um garimpeiro insistindo para que um outro parente indígena desminta a denúncia de estupro e morte da criança de 12 anos. Além disso, no mesmo dia em que a Polícia Federal foi à aldeia, um representante dos garimpeiros divulgou um áudio falando que a "paciência acabou" e que "vão responder igual" acerca de denúncias contra eles.
Os indígenas Yanomami estão sendo coagidos pelos garimpeiros e por conta do medo, alguns parentes acabam cedendo às ameaças, que instruírem a não relatar qualquer ocorrência que tenha acontecido na região, com isso dificulta a investigação da PF e MPF.
Em nota, o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY) cita: "Após insistência, alguns indígenas relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 5g de ouro dos garimpeiros para manter o silêncio".
A violência e a dor dos povos indígenas é como se não tivessem importância num país onde o atual presidente Jair Bolsonaro dá aval para que os invasores, principalmente os garimpeiros, avancem nos territórios indígenas. É revoltante um país onde os não-indígenas se calam perante a morte de uma criança indígena e o desaparecimento de 25 indígenas, mas não se calam quando veem um indígena de iPhone. O garimpo está devastando nossas florestas, contaminando nossos corpos, matando nossos rios e também as mulheres e crianças. Uma aldeia inteira sumiu ou teve que sumir após denunciarem as atrocidades dos garimpeiros.