Negar o direito à terra é condenar uma população inteira ao extermínio

Dia Internacional dos Povos Indígenas é mais um dia de luta

9 ago 2022 - 11h58
(atualizado às 12h04)
"Parafraseando Célia Xacriabá, vamos mostrar ao mundo que antes do Brasil da coroa existia o Brasil do cocar"
"Parafraseando Célia Xacriabá, vamos mostrar ao mundo que antes do Brasil da coroa existia o Brasil do cocar"
Foto: Reprodução/Instagram

O 09 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, é mais uma data “comemorativa”, aliás, o que comemorar? Essa data foi criada por um decreto da ONU em 1995 como resultado da atuação de representantes de povos indígenas de diversos locais do globo terrestre. 

Para nós, povos indígenas, é novamente mais um dia de luta, dia de ocupar as ruas, os campos, as cidades, os territórios e as redes. Dia de estarmos presentes em todos os espaços possíveis mostrando que a força dos nossos ancestrais permanecem em nossos corpos territórios.

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É necessário e urgente que a sociedade compreenda que no Brasil existe um muro que separa cada um de nós dos nossos direitos e dos nossos sonhos. O nome desse muro é o sistema. É contra ele que a gente luta. 

São 522 anos de ataques aos nossos direitos, às nossas histórias, aos nossos territórios e às nossas vidas. Nós precisamos mais do que nunca estarmos juntos. Estamos passando por um momento histórico, 2022 é um ano decisivo que vai definir os rumos da história: o rumo das demarcações das terras indígenas. Precisamos estar preparados e votar no que a gente acredita. 

No Brasil há uma decisão política de não demarcar territórios indígenas. E quando você nega o direito territorial você está condenando uma população inteira ao extermínio. 

Há no país 248 terras sem regularização, todas elas estão aí para serem entregues ao estrangeiro. O agronegócio está acabando com o pouco verde que ainda temos. Grandes empresas estão sendo construídas e poluindo nossas águas sagradas. Mega draga para extrair diamantes e ouro do fundo do rio estão acabando com nossa cadeia alimentar e deixando buracos. 

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É preciso lutar por demarcação já. Não só para as terras indígenas, mas a demarcação dos direitos de todos os trabalhadores. Não vamos aceitar que a Constituição seja rasgada. Vamos juntos fazer a transformação social, ambiental e indígena.

Hoje temos uma bancada forte dentro do congresso que a todo custo quer explorar nossos territórios e o parente que for contra, acaba pagando com a sua própria vida. Muitos dos nossos já se foram, muitos ainda vão, mas nós continuaremos na linha de frente em defesa dos nossos direitos, pois acreditamos em um bem maior, um bem comum para todos, a nossa luta é pela vida.

A atuação desses parlamentares não é ruim só para nós, indígenas. Com a gente tem uma violência maior, porque é direta, de não quererem nem olhar para nós, nos tratam como índio genérico. Mas a população não indígena, também é prejudicada por meio da alimentação e da água contaminadas, das secas e toda devastação ambiental.

É preciso dizer ao nosso povo que não dá mais pra aguentar tanta injustiça e desigualdade. E que a data de hoje seja lembrada por muitos e que possam aprender mais sobre a nossa história de vida, de proteção e de preservação. 

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Chega de silêncio, o que eles querem é nos silenciar, nos intimidar, deixar nosso povo com medo. Estão atacando a democracia, fazem agora uma campanha cheia de ódio, querem nos intimidar, mas o que eles não sabem é que aqui tem o povo de coragem que nunca foge à luta, aqui tem o povo que acredita na esperança, que já tomou às ruas muitas vezes debaixo de bomba, de spray de pimenta, bala de gás, mas não recuou, tem parente que já perdeu seu pai e sua mãe em uma batalha, perderam irmãos, filhas e filhos. 

É com essa força que seguimos pintando cada canto desse país. O jenipapo e o urucum trazem a nossa força e a nossa espiritualidade. Parafraseando Célia Xacriabá, vamos mostrar ao mundo que antes do Brasil da coroa existia o Brasil do cocar. 

Marco temporal: o que é e como atinge a vida dos indígenas?
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