Opinião: Vai ter indígena com iPhone, sim

Estamos conectados, mas mais do que isso: ampliando vozes e conquistando espaços até então nunca alcançados

12 mai 2022 - 05h00
 Com iPhone ou Android, estamos denunciando crimes e atrocidades contra nossos direitos, corpos e territórios
Com iPhone ou Android, estamos denunciando crimes e atrocidades contra nossos direitos, corpos e territórios
Foto: Priscila Tapajowara

Nós estamos na era digital e com o grande avanço da tecnologia e facilidade de acesso que  se tem  hoje,  não é de se surpreender que essa onda também tenha chegado aos indígenas, não é mesmo? 

"Índios fakes" esse é um de muitos termos racistas que usam e tem se tornando motivos  de piada para  questionar até nossa identidade quando descobrem que temos acesso à internet e celular. 

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Infelizmente grande parte da sociedade ainda é muito apegada a estereótipos e padrões pois acredita que um celular ou qualquer aparelho tecnológico arrancam nossa origem, identidade e história, pelo contrário, só veio para somar. Isso só mostra que desconhecem sua própria raiz e seus povos originários. Que na verdade só conhecem o “índio” genérico que está nos livros de história. Mas nós somos reais, estamos aqui, vivemos e existimos no território, nas cidades, nas universidades  em muitos lugares. 

Temos ingressado nas mídias sociais para além de divulgar a nossa cultura e interagir com a sociedade. Ocupar as redes sociais também tem sido essencial no processo de resistência. Enquanto comunicadores e influencers indígena, é importante que assumamos esse lugar, porque sempre tinha alguém falando por nós e muitas vezes contando a história de forma errada, principalmente na internet. Hoje esses espaços têm sido ocupados por nós como ferramenta de luta e deixa claro que é a nossa vez de protagonizar nossa própria história e dar visibilidade a luta dos povos indígenas do Brasil. 

Hoje esses espaços têm sido ocupados por nós como ferramenta de luta e deixa claro que é a nossa vez de protagonizar nossa própria história
Foto: Priscila Tapajowara

Se nos perguntam o que mudou até agora, diríamos que aconteceram mudanças positivas e nota-se que boa parte da sociedade, se não a maioria, tem atendido, aprendido e conhecido mais de nossas vivências e realidades. Antes, muitos não tinham acesso a informações verdadeiras referentes aos povos indígenas, como coisas básicas, por exemplo, não saber que a palavra “índio” é um termo pejorativo e ofensivo quando vem de um não indígena, que essa palavra "simples" relativa os mais de 300 povos que existem no nosso país.

Estamos conectados, mas mais do que isso: ampliando vozes e conquistando espaços até então nunca alcançados. Buscando representatividade, seja em campanhas, publicidades, música, cinema, e política. Naturalizando de vez esses espaços num país onde somos apagados e excluídos a todo tempo. 

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Diante toda essa negligência do estado quanto à proteção dos territórios indígenas e nossos corpos, torna ainda mais necessário a nossa autodefesa. Usamos  essa facilidade para a articulação e mobilização a nível nacional.

E não adianta vir nos dizer que indígena não pode ter celular porque estamos trabalhando para desfazer essa visão romantizada sobre o indígena. Com iPhone ou Android, estamos denunciando crimes e atrocidades contra nossos direitos, corpos e territórios.

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