Quando se é preto, lido socialmente como preto, não importa o quanto você ascendeu profissionalmente; pouco importa onde mora, o carro que tenha ou a roupa mais cara. Sempre farão questão de se mostrar racialmente superiores seja no olhar que intimida, na fala que humilha, no comportamento que agride e/ou quando nos deixam sozinhos, acoados e humilhados. Nada que façamos nos livra desse julgamento condenatório que, em muitos de nós, causa revolta e em muitos outros provoca silêncio.
Seu Jorge é um grande artista, multiinstrumentista, ator, cantor e compositor. Nascido em Belford Roxo, começou a trabalhar desde os dez anos de idade, passou pelo trauma de ver seu irmão assassinado numa chacina e ficou sem teto pra morar por três anos, o artista nunca abandonou seu sonho de se tornar músico. Com o passar dos anos, Seu Jorge construiu uma carreira digna de respeito e sucesso, se consagrando como um dos principais cantores da música brasileira (e internacional).
As vaias, insultos e xingamentos não passam de “muito ódio gratuito e muita grosseria racista”, como bem disse o cantor em vídeo publicado nas redes sociais hoje. Seu Jorge ainda relatou que os únicos negros que viu no evento eram os funcionários que, inclusive, foram impedidos de interagir com ele. Isso só comprova o quanto o racismo se manifesta de diversas formas.
Vi muitos comentários na internet de pessoas dizendo que ele não deveria estar cantando naquele lugar. Ou seja, muitos acreditam que o problema do racismo se resolve fazendo com que pessoas pretas deixem de frequentar e acessar certos espaços. Percebem a problemática? É como se nós fôssemos culpadas pelo racismo dos outros. Não basta repudiar, é preciso enfrentar esse sistema que nos subalterniza e nos inferioriza. Não vamos (nem devemos) carregar essa culpa nas costas.