Nós, pessoas com deficiência, estamos cansados de receber migalhas como se fosse favor

O desabafo poderia ser sobre qualquer aspecto de nossas vidas, mas falo especificamente sobre acesso a cultura e entretenimento

10 fev 2023 - 05h00

Hoje não quero falar das leis, porque elas até existem, mas quero falar do nosso cansaço em ter que exigir o tempo todo que ela se cumpra. Quero falar do nosso desgaste em ter que bancar os chatos porque estamos reclamando de direitos básicos. Quero falar do quão é humilhante para nós, pessoas com deficiência, ter de lidar com a cara de vocês quando nos recusamos a nos contentar com as migalhas que vocês, pessoas sem deficiência, acham que estão nos dando, como favor, a acessibilidade de qualquer jeito e errada, que fazem só para cumprir uma lei ou para nos calar.

O desabafo poderia ser sobre qualquer aspecto de nossas vidas mas, neste texto, falo especificamente sobre o nosso acesso à cultura e ao entretenimento mesmo. Nos últimos dias me deparei, no Twitter, com diferentes pessoas com deficiência, de classe socioeconômica diferente e geolocalizada em várias regiões do nosso país, reclamando das mesmas coisas: a dificuldade de compra de ingressos para shows; da ida aos shows e de serem colocadas em áreas exclusivas para PcDs que ficavam de costas para o palco; séries e filmes do momento e super comentados pelos PsDs (pessoa sem deficiência), sem nenhum tipo de acessibilidade; briga dentro de avião por assento; pessoas sem deficiência comprando ingressos separados para nós PcDs, fingindo ser um de nós, só porque não conseguiram comprar, entre outros absurdos.

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Bom, eu poderia ficar aqui listando todas as barbaridades que, por sua vez, não são novidades para nós, mas que estão cada vez mais corriqueiras, normalizadas e que nos afetam, despertam muitos gatilhos negativos e contribuem para perpetuação da nossa segregação.

O carnaval se aproxima e com ele os blocos, os desfiles de escolas de samba, os camarotes, as festas de rua e, como boa foliã que sou, sigo me perguntando quando teremos uma participação verdadeira e genuína da minha galera, nesse que é um dos maiores espetáculos da terra. Estamos cansados de receber migalhas como se fosse favor e privilégios. A gente não quer benevolência e nem caridade, não queremos privilégios e nem prêmio de consolação! Pagamos nossos impostos, nossos consumos, nossos ingressos e só gostaríamos de ser vistos e considerados desde o ínicio do processo para que quando chegue na ponta, que somos nós, o desgaste não exista.

Sabemos que o nosso pertencimento e a nossa participação em vários ambientes, sejam físicos ou virtuais, não ocorrerá de uma hora para e outra e sem intenção de que essa realidade mude, então seguiremos calejados e machucados, mas lutando, falando, reclamando para que nossos direitos se cumpram.

Caso possa (e queira), comece a se questionar e a questionar também os responsáveis pela ausência de acessibilidade e a ausência de pessoas com deficiência nos lugares que você frequenta, não custa nada e contribui para um constrangimento moral que pode levar a alguma mudança.

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É muito desgaste em ter que bancar os chatos porque estamos reclamando de direitos básicos
É muito desgaste em ter que bancar os chatos porque estamos reclamando de direitos básicos
Foto: iStock
Fonte: Redação Nós
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