Hoje não quero falar das leis, porque elas até existem, mas quero falar do nosso cansaço em ter que exigir o tempo todo que ela se cumpra. Quero falar do nosso desgaste em ter que bancar os chatos porque estamos reclamando de direitos básicos. Quero falar do quão é humilhante para nós, pessoas com deficiência, ter de lidar com a cara de vocês quando nos recusamos a nos contentar com as migalhas que vocês, pessoas sem deficiência, acham que estão nos dando, como favor, a acessibilidade de qualquer jeito e errada, que fazem só para cumprir uma lei ou para nos calar.
O desabafo poderia ser sobre qualquer aspecto de nossas vidas mas, neste texto, falo especificamente sobre o nosso acesso à cultura e ao entretenimento mesmo. Nos últimos dias me deparei, no Twitter, com diferentes pessoas com deficiência, de classe socioeconômica diferente e geolocalizada em várias regiões do nosso país, reclamando das mesmas coisas: a dificuldade de compra de ingressos para shows; da ida aos shows e de serem colocadas em áreas exclusivas para PcDs que ficavam de costas para o palco; séries e filmes do momento e super comentados pelos PsDs (pessoa sem deficiência), sem nenhum tipo de acessibilidade; briga dentro de avião por assento; pessoas sem deficiência comprando ingressos separados para nós PcDs, fingindo ser um de nós, só porque não conseguiram comprar, entre outros absurdos.
Bom, eu poderia ficar aqui listando todas as barbaridades que, por sua vez, não são novidades para nós, mas que estão cada vez mais corriqueiras, normalizadas e que nos afetam, despertam muitos gatilhos negativos e contribuem para perpetuação da nossa segregação.
O carnaval se aproxima e com ele os blocos, os desfiles de escolas de samba, os camarotes, as festas de rua e, como boa foliã que sou, sigo me perguntando quando teremos uma participação verdadeira e genuína da minha galera, nesse que é um dos maiores espetáculos da terra. Estamos cansados de receber migalhas como se fosse favor e privilégios. A gente não quer benevolência e nem caridade, não queremos privilégios e nem prêmio de consolação! Pagamos nossos impostos, nossos consumos, nossos ingressos e só gostaríamos de ser vistos e considerados desde o ínicio do processo para que quando chegue na ponta, que somos nós, o desgaste não exista.
Sabemos que o nosso pertencimento e a nossa participação em vários ambientes, sejam físicos ou virtuais, não ocorrerá de uma hora para e outra e sem intenção de que essa realidade mude, então seguiremos calejados e machucados, mas lutando, falando, reclamando para que nossos direitos se cumpram.
Caso possa (e queira), comece a se questionar e a questionar também os responsáveis pela ausência de acessibilidade e a ausência de pessoas com deficiência nos lugares que você frequenta, não custa nada e contribui para um constrangimento moral que pode levar a alguma mudança.