Pessoas com deficiência são incluídas na era digital?

Somos, no Brasil, mais de 45 milhões de indivíduos com alguma deficiência e ainda assim não somos considerados como público consumidor

26 mai 2022 - 05h00

A tecnologia digital é uma forte aliada da inclusão de pessoas com deficiência, pois pode promover o acesso a produtos e serviços de qualidade, além de facilitar a comunicação.

Posso citar exemplos aqui, como o Guia de Rodas, um aplicativo que mapeia lugares com boa estrutura para locomoção de cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção. Através de avaliações de usuários cadastrados, o app avalia o grau de acessibilidade de estabelecimentos de todo o mundo. É disponibilizado de forma gratuita para IOS e Android.

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Tem também a Signa, que nasceu com a missão de gerar oportunidades de capacitação pensando nos 9,7 milhões de surdos brasileiros. Com uma plataforma online e adaptada, e oferecendo cursos produzidos de forma didática em libras e com legenda, todos feitos pela própria comunidade de deficiência auditiva.

O Be My Eyes também faz um trabalho excelente. É um aplicativo que foi criado para auxiliar pessoas cegas ou com visão limitada. Funciona da seguinte forma: um usuário cego ou com visão limitada solicita ajuda através do aplicativo, o Be My Eyes envia uma notificação para alguns voluntários, esses, sem deficiência visual. Quando o primeiro voluntário responde a solicitação, eles são conectados, e o voluntário recebe uma transmissão de vídeo ao vivo da câmera traseira do smartphone do usuário. O auxílio pode ser para tarefas do dia a dia, como preparar uma refeição ou resolver algumas tarefas juntos. Ele também é disponibilizado de forma gratuita para IOS e Android.

Sempre digo que a internet é um recurso super acessível e democrático, mas o conteúdo nela postado, seja em sites, rede social, intranet, conteúdo acadêmico etc, ainda não é acessível em sua totalidade. Somos, no Brasil, mais de 45 milhões de indivíduos com alguma deficiência e ainda assim não somos considerados e consideradas como cidadãos e cidadãs e público consumidor.

A internet e a tecnologia são partes importantes nesse processo quando falamos e pensamos sobre inclusão digital. São forças unidas que se aplicadas e utilizadas corretamente facilitam a vida da gente, digo da gente porque tenho uma deficiência visual e, se tenho suporte correto e necessário para fazer o que me proponho fazer, seja no trabalho ou na vida pessoal, faço como qualquer outra pessoa.

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O leitor de tela que nós deficientes visuais usamos, por exemplo, não reconhece fotos. E nós também temos fotos em todos os lugares, gravamos vídeos e não colocamos legendas ou uma intérprete de libras. Então mesmo com a tecnologia possibilitando que isso aconteça, porém, tanto os usuários como os desenvolvedores acabam não considerando as nossas vivências e necessidades, porque mais uma vez não somos vistos como consumidores, seja de conteúdo ou em geral.

Um exemplo que posso dar, é sobre a neutralização de gênero, não estou aqui para defender ou criticar, mas para mostrar que, sendo uma deficiente visual, sinto dificuldade no entendimento das palavras alteradas. Nesse caso, é muito comum a substituição dos artigos A e O por @ ou X, porém quando se leva isso para o escopo de um leitor de tela, essas palavras se tornam ilegíveis, dificultando o entendimento e fluidez da leitura. Uma solução para essa questão é a utilização de termos gerais como “Todos e Todas”, “Amigos e Amigas”, ou a substituição do A e O pela vogal E, que se torna legível ao leitor . Assim se reconhece a luta de uma minoria sem excluir a outra.

Menos 1% dos sites brasileiros são aprovados em todos os testes de acessibilidade​, segundo o Movimento Web para Todos
Menos 1% dos sites brasileiros são aprovados em todos os testes de acessibilidade​, segundo o Movimento Web para Todos
Foto: iStock

Outras formas de incluir os deficientes, é fazendo a descrição de fotos. Tem dúvidas de como fazer? Eu te explico! Você descreve o que tem na imagem partindo da esquerda para direita, de cima pra baixo e do primeiro plano para o segundo, falando as cores das roupas, tipos das roupas, se a pessoa está sorrindo ou não, sem dar adjetivos a essa descrição, deixando o juízo de valor para nós. Colocando também legendas em vídeos. Caso não saiba colocar a legenda no vídeo, coloca na parte da descrição tudo que foi falado, ou na descrição do post.

A maior parte dos sites hoje no Brasil não são acessíveis, mesmo existindo um movimento chamado Web para todos que pode ser consultado para se entender como fazer um site adequado às necessidades de todos, que seja suportado para leitores de tela, com libras e todos os recursos.

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Não adianta avançarmos em tecnologia e continuarmos estagnados no que diz respeito ao capital humano. A sociedade precisa nos enxergar como seres que vão além das suas deficiências, e passar a nos considerar nos espaços, virtuais ou físicos. As soluções podem e devem existir. Basta que haja interesse e pesquisa.

Não esqueçam que, assim como vocês, somos pessoas buscando o nosso lugar no mundo.

Fonte: Redação Nós
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