O discurso de “ninguém quer ver futebol feminino” já está ultrapassado. Se a Copa do Mundo de 2019 foi o boom que a modalidade precisava para se concretizar, os eventos que aconteceram de lá para cá comprovam cada vez mais que o público aprendeu a gostar do futebol feminino.
O mês de julho se encerrou com a maior prova delas. No último domingo (31), o estádio de Wembley, considerado o templo do futebol em Londres, recebeu 87.192 pessoas para a final da Euro Feminina, entre Inglaterra e Alemanha - e foi à loucura com o título inédito das donas da casa, por 2 a 1, na prorrogação.
Um dia antes, no sábado (30), a Colômbia foi palco da final da Copa América, entre as anfitriãs do torneio e a seleção brasileira. Com capacidade menor, em comparação com o estádio inglês, o Brasil levantou o oitavo título da competição sob o olhar de 22 mil torcedores.
Foram mais de 100 mil pessoas que, entre sábado e domingo, saíram de suas casas para assistir às partidas de futebol feminino. Número inimaginável há alguns anos.
Quando ampliamos o alcance para as transmissões de TV, aí é quase impossível segurar a euforia. Foram 17,4 milhões de pessoas assistindo à final europeia, e outras 5,9 milhões pelo streaming da BBC. A audiência fez com que o jogo superasse os shows de celebração do Jubileu de Platina da rainha Elizabeth, tornando-se o programa mais assistido da televisão britânica em 2022.
São argumentos irrefutáveis.
Aqui na América Latina tivemos um resultado menos impressionante, mas que com uma pitada de otimismo mostra que estamos no caminho certo. O SBT, canal de TV aberta que tinha o direito de transmissão da Copa América no Brasil, chegou a ter pico de audiência de 6.5 pontos, segundo dados prévios do Kantar Ibope.
Os passos são curtos e lentos. Se para quem assistiu às duas finais de competições era perceptível a imensa diferença técnica entre as seleções europeias e as latinas, também é nítido que ainda precisamos amadurecer como público consumidor do futebol feminino. Isso passa pela qualidade de técnicas e jogadoras, apoio e incentivo aos campeonatos estaduais e de base, mais empresas patrocinadoras, maior cuidado da imprensa com o produto e, por fim, ao público, que aos poucos percebe que sim, há qualidade, há talento, há perfomance e há, acima de tudo, futebol no futebol feminino.