Brasileiro feminino quebra recordes e anima, mas merece mais

Com público, premiação e arrecadação recordes, futebol feminino deve seguir mirando no crescimento e na organização da modalidade

26 set 2022 - 22h07
(atualizado em 27/9/2022 às 19h14)

Não há outra maneira de começar essa coluna falando sobre o Brasileiro Feminino sem destacar o recorde de público presente na Neo Química Arena nesse sábado (24) para ver a conquista do título pelo Corinthians, após vitória por 4 a 1 sobre o Internacional.

Os 41.070 torcedores (40.691 pagantes) foram responsáveis pelo recorde de maior público em uma partida de mulheres entre clubes no Brasil e na América do Sul, além de ser a maior renda já registrada no país em um jogo de futebol feminino: R$ 900.981,00. 

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Telão na Neo Química Arena mostra recorde de público na final
Telão na Neo Química Arena mostra recorde de público na final
Foto: Foto: SAULO DIAS/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Os números entram para a história e reforçam algo que o Papo de Mina repete há muito tempo: o futebol feminino veio para ficar, e atinge todos os públicos, até mesmo aqueles mais conservadores que há poucos anos insistiam em dizer que “esse esporte não é para mulher”. Barreira quebrada.

Para ficar por dentro dos esportes femininos, siga o Papo de Mina no Twitter.

É preciso ainda apontar que pela primeira vez na história da competição o campeão - no caso, o Corinthians - recebeu R$ 1 milhão como prêmio, valor cinco vezes maior do que o pago na última edição do Brasileiro Feminino (e vencido também pelo Corinthians).

O Inter, vice-campeão, também recebeu um montante cinco vezes maior do que o pago ao segundo colocado em 2021. No total, foram distribuídos R$ 5 milhões aos 16 times participantes do Brasileiro Feminino.

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É histórico e deve sim ser comemorado. Mas vamos, agora, aos poréns.

Corinthians comemora título ao lado da torcida, que fez história
Foto: JORGE BEVILACQUA /CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

A premiação em dinheiro é significativa, mas quando comparamos com o Brasileiro Masculino, a diferença ainda é gigantesca - são R$ 33 milhões pagos pela Confederação Brasileira de Futebol ao campeão masculino, contra R$ 1 milhão no feminino. Até mesmo o último clube a se garantir na Série A (o 16º colocado) recebe mais do que o dobro do que foi distribuído entre todos os times femininos: 11 milhões, contra 5 milhões.

Sabemos, claro, que existe mais visibilidade, publicidade e muitos outros fatores que giram em torno do futebol masculino, mas o feminino deve se posicionar para seguir em crescimento e buscar essa equidade, como ressaltou o técnico do Corinthians, Arthur Elias:

“A gente quer mais, a gente não pode parar por aqui. O futebol feminino precisa ter esse equilíbrio de valorizar o que está acontecendo e também buscar mais, porque pode muito mais, e essas finais provaram isso”.

Com 16 anos de dedicação ao futebol de mulheres e dezenas de títulos, o treinador fez questão de apontar a importância deste legado”. Acho que isso [a presença dos públicos em Porto Alegre e em São Paulo], mesmo que tardiamente, é um esforço de muitas gerações, mulheres, de jovens que sonharam, lutaram e batalharam para conseguir ter mais respeito, mais estrutura para trabalhar, e obviamente tendo a estrutura você traz a visibilidade, traz os torcedores”, disse.

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São muitos os degraus a serem percorridos, e estamos bastante longe do topo. Para que esse caminho seja menos tortuoso existe um fator que não pode ser negligenciado: a organização.

A premiação, já falamos, foi histórica nessa edição, mas foi anunciada pela CBF apenas dois dias antes da final. Os clubes não conseguem se planejar financeiramente, e isso traz uma série de empecilhos para o crescimento, bem como a dificuldade de organizar os calendários de jogos.

Três dias antes da partida decisiva, o Corinthians teve um clássico marcado contra o Palmeiras, pelo Paulista feminino, o que gerou muita reclamação por parte do técnico. “A Federação Paulista realmente fez uma palhaçada conosco, acho que é uma falta de respeito com o clube”, disparou Elias, em um vídeo que acabou não sendo veiculado pela FPF e causou ainda mais confusão.

Após o título desse domingo, o Papo de Mina questionou o treinador sobre o tema, que enfatizou a falta de organização e a liberdade para debater estes temas. “Falta muita coisa, em termos de organização. E se eu não puder falar, quem vai falar? Tenho 16 anos de futebol feminino, trabalho num clube enorme, campeão das últimas competições. É uma questão de a gente conseguir se posicionar, com respeito (...) a gente precisa se permitir falar sem polêmica besta”, concluiu.

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Organização, valorização e manutenção do trabalho são palavras-chave para a modalidade. Que no próximo ano a gente volte a escrever sobre mais recordes, e com menos poréns.

Cris Gambaré, a mulher que mudou o futebol feminino do Corinthians
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