É preciso olhar além da "coincidência" do G4 do Brasileirão

No início da semana, Série A do feminino e do masculino tinham os mesmos quatro clubes nas primeiras posições

17 jun 2022 - 05h00
(atualizado às 19h49)

Segundo a definição do dicionário Oxford Languages, a palavra coincidência significa “igualdade, identidade de duas ou mais coisas''. Há quem diga que é bobagem, já outros creem que essa sintonia traz um significado além. 

O jornalista Ubiratan Leal destacou em seu Twitter as tabelas de classificação dos campeonatos brasileiros feminino e masculino desta semana (antes do início da 12ª rodada do masculino), com os mesmos quatro times - ainda que em posições diferentes. Para ele, “uma coincidência”, mas será mesmo apenas isso?

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Desde 2019 a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) definiu que, para se enquadrar no Licenciamento de Clubes da entidade, os 20 clubes participantes da Série A do Brasileiro Masculino precisam manter um time de futebol feminino - adulto e de base. As regras da Conmebol também passaram a exigir que para disputar a Copa Libertadores ou Sul-Americana "o solicitante deverá ter uma equipe feminina ou associar-se a um clube que possua a mesma. Ademais, deverá ter ao menos uma categoria juvenil feminina, ou associar-se a um clube que possua a mesma".

A decisão ocorreu exatos 40 anos após o fim do Decreto-Lei 3199, instaurado em 1941 por Getúlio Vargas, que proibia as mulheres de praticarem futebol e outros esportes “incompatíveis com a natureza feminina” no Brasil.

Foi no mesmo ano de 2019 que a Copa do Mundo de Futebol Feminino conquistou a torcida. Houve um boom de audiência e a competição se tornou a mais vista da história, com alcance de mais de 1 bilhão de pessoas.

Novamente o questionamento: será apenas uma coincidência?

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No feminino, Palmeiras é o segundo colocado do Brasileirão, enquanto o Corinthians ocupa a terceira posição
No feminino, Palmeiras é o segundo colocado do Brasileirão, enquanto o Corinthians ocupa a terceira posição
Foto: Fabio Menotti

À época, dos quatro clubes que hoje estão liderando ambos os campeonatos, apenas Corinthians e Internacional já possuíam estrutura no futebol feminino. O Palmeiras, por exemplo, não tinha representantes, mesmo tendo sido um dos pioneiros na modalidade na década de 90, e o São Paulo estava com projetos encaminhados.

Com investimentos, incentivos e bons trabalhos, os frutos começaram a ser colhidos. Muito mais do que obrigação, dirigentes e marcas perceberam - com um longo atraso, e ainda com muitas melhorias a serem feitas - que o futebol feminino é um produto precioso e que pode ser bastante rentável.

Aqui no Papo de Mina já detalhamos que a Supercopa, realizada em fevereiro de 2022, levou um público de quase 20 mil pessoas à Neo Química Arena para a final entre Corinthians x Grêmio, e marcou 11 pontos de média no Ibope da Globo na mesma partida.

Ainda não estamos perto de um “mundo perfeito”, em que as categorias feminino e masculina recebem o mesmo tratamento da mídia, dos órgãos responsáveis e com igualdade de premiações e salários para as atletas, mas talvez essas “coincidências”, que podem durar apenas uma rodada do campeonato, ajudem a abrir os olhos dos responsáveis pelo futebol brasileiro e mostrem que investimento traz resultado, independentemente do sexo das pessoas envolvidas.

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