Futebol feminino terá respaldo para crescimento sustentável?

Apesar das perspectivas positivas, modalidade ainda apresenta lacunas que não podem ser ignoradas

14 fev 2023 - 17h43
(atualizado às 17h51)
Corinthians foi campeão da Supercopa com premiação recorde de R$ 500 mil
Corinthians foi campeão da Supercopa com premiação recorde de R$ 500 mil
Foto: Adriano Fontes/CBF

As recentes notícias positivas surpreendem tendo em mente os problemas da última década no futebol feminino brasileiro. Corinthians campeão da Supercopa com premiação recorde (R$ 500 mil ao vencedor e R$ 300 mil ao segundo colocado, Flamengo), Pia Sundhage, técnica da seleção brasileira feminina, entre as três finalistas a melhor treinadora do mundo pelo Fifa The Best, e a promessa da CBF de que até 2027 todos os clubes das quatro divisões do Campeonato Brasileiro (A, B, C e D) tenham uma equipe feminina.

São indícios de mudanças e crescimento da modalidade, com perspectivas positivas. Parece até um “mundo perfeito”. Mas sabemos que as coisas não podem ser vistas apenas com este olhar, e levantamos alguns pontos de atenção sobre os temas.

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Supercopa feminina:

- A premiação, apesar de recorde, só foi anunciada dois dias antes do início da competição;

- Em 2022, primeira edição do torneio, não houve nenhuma bonificação em dinheiro, e  o Papo de Mina apurou que alguns times tiveram prejuízo com a participação

- À época, em entrevista exclusiva ao Papo de Mina, Cris Gambaré, diretora do futebol feminino do Corinthians, falou sobre essa questão (clique aqui para ler);

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- Na Copa do Brasil masculina todas as fases são remuneradas (sendo o valor mais baixo de R$750 mil), e o time campeão recebe um prêmio de R$ 91 milhões;

- Usando a mesma competição como comparação, na mais recente edição da Supercopa do Brasil masculina, o Palmeiras recebeu R$ 10 milhões como campeão, e o Flamengo, vice, R$ 5 milhões.

Seguindo o mesmo raciocínio, nos debruçamos sobre o anúncio feito pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, sobre a obrigatoriedade dos clubes terem uma equipe feminina. No papel é, realmente, um plano incrível, de fomento à modalidade, mas que pode deixar algumas brechas.

Questionamos a entidade a respeito do investimento programado para essas equipes e, principalmente, se haverá alguma forma de acompanhamento e monitoramento para que os clubes não apenas criem um time feminino para cumprir a regra e abandonem a modalidade, sem dar condições necessárias às atletas. Um time que disputa as divisões de acesso e tem poucos recursos para a equipe masculina - que tende a ser mais rentável, com mais popularidade, recursos de patrocinadores e televisão - conseguirá manter, com qualidade, um time feminino?

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Em nota, a CBF garantiu que vai “assumir a responsabilidade e custear sozinha as despesas dessas competições” e que o investimento no futebol feminino será importante para gerar novos empregos e novas jogadoras para as seleções.

Confira na íntegra: 

O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, já solicitou um estudo financeiro para este projeto. A CBF vai assumir a responsabilidade e custear sozinha as despesas dessas competições.Todo esse trabalho visa  propagar o futebol  feminino por todo o Brasil e transformá-lo em um produto cada vez mais interessante. Temos certeza que, no médio prazo, será um dos grandes ativos do futebol no Brasil.

Hoje, os clubes mais conhecidos, a elite do futebol, já têm um trabalho nesse sentido. Mas é importante expandir esse crescimento por todo o país em diversas categorias para que o futebol gere novas jogadoras e novos empregos que possam fomentar a cadeia do futebol como um todo.

Haverá também um salto de qualidade com este investimento, a partir do crescimento do número de atletas de alta performance no país, abrindo o leque de oportunidades para as seleções brasileiras.

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Há uma grande chance desta coluna ser taxada de pessimista e desacreditada, afinal estamos em ano de Copa do Mundo feminina, e os resultados recentes comprovam que o futebol feminino não para de crescer. A preocupação que fica, porém, é em relação justamente a esse crescimento ser saudável e sustentável.

Retomando o exemplo da Supercopa, vimos o Ceará ser eliminado pelo Flamengo por um placar de 10 a 0 e entrar em campo com atletas sub-18. No blog “Dona do Campinho”, do GE, a jornalista Cíntia Barlem questionou o clube sobre o fato, e foi informada que, com a queda do masculino à segunda divisão, todos os setores sofreram cortes. Um adendo: a equipe feminina acabou de garantir o acesso para a primeira divisão.

E esse mesmo Flamengo, que goleou e foi vice-campeão da Supercopa, e vem de inúmeras conquistas no masculino, também deixou a desejar. Tamires, capitã do Corinthians, usou a visibilidade do pós-título para uma crítica importante:

“Conheço todas as meninas desse time, todas batalham muito e para mim não pode, com a camisa que o Flamengo tem, colocar essas meninas para jogar uma semifinal no campo que jogaram. O Flamengo tem que rever muito mais. Olha o Corinthians, o Corinthians ganha título porque é isso aqui. Coloca a gente para jogar na Arena, a torcida lota os estádios. Então nada do que estamos conquistando hoje é simplesmente porque a gente tem talento, é porque a gente recebe esse apoio do clube, da torcida. Vamos os clubes fazer isso pelas atletas, porque temos muito potencial e muita menina para crescer”.

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O futebol feminino cresce, recebe investimentos e segue um excelente caminho. Mas ainda não podemos nos dar por satisfeitas. Merecemos e precisamos de mais.

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