Lia Thomas foi indicada ao prêmio de “Mulher do Ano” no esporte. A manchete, à primeira vista, parece apenas mais uma dentro do universo esportivo, mas ela representa muito mais que isso quando acrescentamos um adjetivo ao seu nome: “transgênero”.
Sim, Lia Thomas, a nadadora americana de 22 anos, é uma mulher transgênero, que já fez história (e gerou polêmicas) ao vencer a prova de 500 jardas livre e conquistar o título da NCAA, e mais uma vez está nos holofotes com a recente indicação.
A NCAA, National Collegiate Athletic Association, é uma associação esportiva responsável pela organização da maior parte dos campeonatos universitários dos Estados Unidos, e anualmente realiza o prêmio “Woman of the Year” que, de acordo com definição do próprio site, “reconhece as alunas-atletas que esgotaram sua elegibilidade e se destacaram em sua comunidade, no atletismo e no meio acadêmico ao longo de suas carreiras universitárias.”
Tradicionalmente as universidades que fazem parte da liga nomeiam a melhor atleta para concorrer e, em 2022, a escolha da Universidade da Pensilvânia foi Lia Thomas. A indicação tem um peso enorme para a luta contra a discriminação e a transfobia, e ganha ainda mais relevância quando olhamos para um apontamento feito pelo site da NCAA:
“Como 2022 marca o 50º aniversário do Título IX, o programa NCAA Woman of the Year é uma importante oportunidade para homenagear e refletir sobre o impacto das mulheres nos esportes intercolegiais.”
Mas o que é o Título IX?
O Título IX das Emendas de Educação de 1972 (Título IX) é uma lei federal dos Estados Unidos - Lei Pública nº 92-318, 86 Stat. 235 (23 de junho de 1972), codificado em 20 USC §§ 1681–1688, que proíbe a discriminação sexual (incluindo gravidez, orientação sexual e identidade de gênero) em qualquer programa ou atividade educacional que receba assistência financeira federal.
Um texto publicado pelo ShareAmerica (plataforma do Departamento de Estado dos EUA que comunica a política externa americana para todo o mundo) em 2019, logo após o título da seleção feminina de futebol norte-americana na Copa do Mundo, reforça a importância dessa lei, e destaca outro ponto fundamental: o Título IX passou a exigir que as instituições educacionais recebam financiamento federal para proporcionar a ambos os sexos oportunidades iguais para participar em atividades esportivas. Resumindo a uma única palavra: equidade.
A lei teve, sem dúvida, muito impacto no esporte, mas hoje, 50 anos depois de sua criação, ainda não extinguiu o preconceito. Lia Thomas, que já fez história com essa indicação e com a conquista do título inédito nas 500 jardas livre, não terá oportunidade de disputar competições internacionais como os Jogos Olímpicos, por exemplo, depois da nova regra definida pela Federação Internacional de Natação (Fina), que só permite atletas com transição ocorrida antes dos 12 anos.
"As pessoas trans não fazem a transição pensando na parte atlética. Fazemos a transição para sermos felizes, autênticos e verdadeiros. Fazer a transição para obter uma vantagem não é algo que influencia nossas decisões", disse a nadadora ao programa de televisão Good Morning America.
Que essa mensagem seja lembrada, e que mais do que vencer o prêmio “Mulher do Ano” da NCAA, Lia Thomas vença o direito de ser uma mulher e atleta trans.