Quando a equipe do Palmeiras realizava a volta olímpica, carregando a taça do Paulistão Feminino, Ary Borges parou por alguns minutos para fazer a alegria de três meninos que estavam na arquibancada do Allianz Parque.
Antes mesmo de começar a decisão do campeonato estadual, entre Palmeiras x Santos, as crianças estendiam com orgulho um cartaz: “Ary, somos seus fãs. Poderia dar sua chuteira?.”
Enquanto balançavam a cartolina em claro revezamento, eles aproveitavam para chamar a atenção dos integrantes da imprensa e da organização. Renato, o mais animado do trio, convocava qualquer pessoa que parecesse minimamente importante dentro do gramado.
“Pede para a Ary vir aqui quando acabar o jogo, por favor?'', gritava.
A hora que o apito final soou, com vitória das Palestrinas por 2x1 e direito a gol de Ary Borges, a apreensão da molecada era ainda mais nítida, assim como a gritaria...
No entanto, Ary não pensou duas vezes quando passou em frente ao trio. A atleta tirou as chuteiras, as assinou e entregou em mãos. Os três, do outro lado da divisória entre plateia e campo, não escondiam a alegria de ter conquistado a atenção da meia-atacante. Veja abaixo.
Apesar de ser um ato simples, o de uma jogadora entregar as chuteiras para seus fãs… Há cinco anos ele seria pouco provável de acontecer nessas circunstâncias. Principalmente porque foi Jorge, pai de Gustavo, um dos três amigos, quem os levou ao Allianz.
“Desde que o futebol feminino explodiu de uns anos para cá, incentivo e trago no estádio mesmo. Assim como no masculino. Essas meninas merecem todo o carinho”, contou o pai ao Papo de Mina.
O fato de um homem levar o filho e mais dois amigos para assistir a um jogo de futebol jogado por mulheres, em um país historicamente machista, prova que as novas gerações - mais livres de preconceitos - se encantam pela modalidade e ainda são agentes transformadores na mentalidade dos mais antigos.
São essas gerações que estão quebrando o tradicional “incômodo” de ver uma mulher calçando chuteiras. Muito pelo contrário, esses meninos querem levar as chuteiras de uma mulher para casa.
Isso significa muito. Afinal, o futebol feminino também é feito para meninos e para os homens. Claro, eles não são os protagonistas no campo, mas, com certeza, fazem parte do ecossistema, seja na arquibancada, na transmissão, na comissão técnica. Eles são parte do todo.
Por isso, tê-los como aliados é necessário e parece cada vez mais uma realidade.