Novo caso de abuso sexual no esporte pede medidas urgentes

Técnico de um time de futsal de SC é mais um acusado de assediar atletas

6 jul 2022 - 05h00

O ex-técnico do Sanrosé, time de futsal de Santa Catarina, foi indiciado pela Polícia Civil, acusado de abusar de jogadoras da categoria de base. Reginaldo Valdir Vieira, de 31 anos, é um dos fundadores do clube, que foi encerrado em novembro do ano passado após as atletas denunciarem os crimes. Depois de três meses de investigações e depoimentos de vítimas e testemunhas, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o treinador, e agora o caso, divulgado pelo Esporte Espetacular, da TV Globo, no último domingo (03), está no Tribunal de Justiça. 

Reginaldo Valdir Vieira era treinador e dirigente do Sanrosé
Reginaldo Valdir Vieira era treinador e dirigente do Sanrosé
Foto: Reprodução

Este é um pequeno resumo da triste situação, mais uma da temática assédio dentro do esporte. Somente aqui, no Papo de Mina, vamos ao terceiro texto em três meses sobre o assunto. Em maio houve o desabafo de Giovana Queiroz, jogadora brasileira de 18 anos, que acusou o Barcelona de assédio moral, práticas abusivas e confinamento ilegal a fim de impedir que ela servisse a seleção brasileira, e no início de junho mais um capítulo das ginastas dos EUA, desta vez um processo contra o FBI pela negligência no caso de abuso sexual e assédio cometido pelo ex-médico Larry Nassar.

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Isso porque nos restringimos a falar sobre o esporte. Se ampliarmos o leque, os relatos são inúmeros - somente nesta semana estamos acompanhando a renúncia do presidente da Caixa Econômica Federal, acusado por diversas funcionárias de assediá-las, o vereador Gabriel Monteiro se tornando réu por importunação sexual e assédio sexual contra uma ex-assessora dele, sindicância aberta na Universidade Estadual Paulista (Unesp) para investigar as denúncias de assédio sexual feitas por alunas contra um professor, e relatos da vocalista da banda Bonde do Forró, que diz ter sofrido assédio por parte de um segurança de festa onde se apresentou.

São cenários que preocupam, assustam e infelizmente são corroborados com números. A pesquisa Observatório Febraban Mulheres, Preconceito e Violência, encomendada pela Federação Brasileira de Bancos e realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), entre os dias 19 de fevereiro e 3 de março de 2022, mostra que a violência e o assédio são as principais causas de preocupação entre mulheres no País.

55% das 3 mil brasileiras ouvidas afirmam que viram ou tomaram conhecimento sobre mulheres próximas que foram vítimas de situações de violência verbal, física ou sexual, número que cresce ainda mais no recorte da faixa etária de 18 a 24 anos: 63%. O que mais falta para que algo seja feito no combate ao assédio e abuso?

Retomando o caso mais recente, do time de futsal de Santa Catarina, os abusos aconteceram na casa disponibilizada para as atletas da categoria de base do Sanrosé, que ficava no mesmo terreno de onde morava o treinador Reginaldo e sua família. “O suspeito plantava essa ideia do ambiente familiar e se colocava nessa posição de protetor, de pai”, disse a delegada Marcela França Goto, responsável pela investigação, em entrevista ao Esporte Espetacular. 

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Ainda de acordo com a delegada, que ouviu as vítimas do crime, depois das supostas relações sexuais o ex-treinador teria falado para as atletas: “'não conta pra ninguém, porque ninguém vai acreditar em ti, tu não tens família, tu tás totalmente dependente''.

Além das agressões físicas, um abuso também psicológico, que tem como uma das consequências o afastamento de muitas meninas do esporte justamente pelo medo de sofrer algo parecido, afinal é comum que para se dedicar aos treinos em níveis mais altos, muitas jovens atletas viajem para longe de suas famílias e morem em acomodações cedidas pelos clubes.

Carolaine Francisco, uma das jogadoras do clube, relatou justamente esse processo de cura psicológica: “tenho um receio muito grande de estar na presença dele. Ainda vivo muito em uma caixinha, que eu não consigo ir pra frente, né, evoluir”.

Pelo medo da falta de credibilidade, das retaliações e, em alguns casos, por não compreenderem o crime que de fato está acontecendo, muitos casos de abuso e de assédio (seja no esporte ou fora dele) ainda seguem acontecendo, todos os dias, e exigem uma postura mais radical para que o combate seja eficaz.

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