Há uma semana foi celebrado o Dia Internacional de Combate à LGBTQIA+fobia, e os clubes de futebol foram uníssonos nas redes sociais com mensagens recriminando o preconceito e pedindo respeito a todos. O discurso, sempre necessário, no ambiente esportivo ou na sociedade, parece não ter efeito sobre os torcedores.
Neste domingo (22), durante o clássico Corinthians x São Paulo, as arquibancadas da NeoQuímica Arena entoaram os já tradicionais cantos homofóbicos contra o clube do Morumbi.
Nem uma publicação antes do jogo, pedindo para que a Fiel não tivesse “atitudes como cantos, gestos ou falas racistas ou homofóbicas, que envergonhem nossa torcida” e pedidos feitos nos telões e no sistema de som do estádio durante a partida foram capazes de impedir que milhares de vozes gritando "Vai pra cima delas Timão, da bicharada" e "Vamos! Vamos, Corinthians! Que dessas bichas, teremos que ganhar".
Os insultos foram registrados na súmula da partida pelo árbitro Wilton Pereira Sampaio, e criticados pelo presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, ao fim do jogo.O clube também emitiu uma nota oficial de repúdio.
Na teoria, todas atitudes esperadas e fundamentais, mas que na prática têm pouco ou nenhum resultado efetivo.
Se Corinthians e São Paulo jogassem novamente na próxima semana, quais são as chances de o posicionamento ter efeito e nenhuma fala homofóbica ser repetida pela torcida?
Uso aqui o exemplo do Corinthians pelo caso mais recente que ganhou repercussão, mas é algo presente em todos os estádios, em todos os clubes brasileiros. Um hábito até mesmo naturalizado, ainda que vivamos no país que mais mata pessoas LGBTQIA+ e que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais sejam considerados crimes, bem como o racismo.
Por que há receio em usar a camisa 24, ou qualquer outra coisa relacionada ao número que representa o veado no jogo do bicho? Um preconceito enrustido, mas que se soma às diversas formas de preconceito observadas no esporte, principalmente no futebol masculino.
Na última semana, aqui na coluna do Papo de Mina, escrevi sobre a declaração do jogador Jake Daniels, do Blackpool Football Club, que assumiu a homossexualidade. Entre os motivos para que essa atitude seja tão rara no futebol usei o exemplo dos gritos de “bicha” usados pelas torcidas para menosprezar o goleiro adversário, que tornam o futebol um ambiente inseguro para homossexuais.
O questionamento usado no último texto, então, segue válido - e sem resposta: Até quando o futebol vai rejeitar a homossexualidade?
Esperamos que punições aconteçam, e que essas notícias de cantos homofóbicos sejam substituídas por mais espaço, respeito e apoio a atletas homossexuais e transexuais.