O pedido de extradição e o mandado de prisão internacional, emitidos pelo Ministério Público de Milão, em 19 de fevereiro, são um motivo a mais para Robinho não deixar a sua casa no Guarujá.
Após a condenação a nove anos de prisão por violência sexual, decretada em janeiro deste ano, por crime cometido contra uma jovem albanesa, de 23 anos, em uma boate em Milão, em 2013, o jogador optou pelo silêncio, e não se manifestou nem mesmo em redes sociais.
Com a Constituição - e a burocracia - a seu favor, ao menos por enquanto, Robinho aguarda.
Ele pode vir a ser preso no Brasil, mas o caminho é longo, pela chamada Transferência de Execução Penal (TEP), prevista no artigo 100 da Lei de Migração, e que exigiria uma equiparação jurídica e de penas.
Mas o que o atleta espera? Que o crime, que ele, em entrevista ao UOL, em outubro de 2020, definiu apenas como “erro de ter traído a esposa”, caia no esquecimento do público, e ele volte aos gramados brasileiros?
Difícil. A redoma de vidro do “rei das pedaladas” já foi quebrada.
Ainda antes do julgamento em segunda instância, ocorrido em dezembro de 2020, Robinho sentiu que sua trajetória no futebol já estaria marcada, talvez acabada. Ele chegou a assinar com o Santos, time no qual foi revelado e onde garantiu idolatria, mas seu contrato foi suspenso por pressão de parte da torcida e também de patrocinadores.
Hoje, com a condenação confirmada, prisão decretada e proibição de sair do Brasil, qual seria o destino?
Aos 38 anos, sem jogar uma partida oficial desde 19 de julho de 2020, ainda atuando pelo Istambul Basaksehir, da Turquia, Robinho já pode ser considerado um ex-atleta.
Um ato, muitas consequências
Embora Robinho não assuma o crime, já não há mais espaço na Justiça para que tente provar o contrário. Ele foi condenado, e pode ser preso - talvez no Brasil, se alguma brecha na lei permitir, se deixar o país, ou até na Itália -, mas uma grande punição certamente já veio para o jogador que fez história no Santos, e teve passagens por Milan, Real Madrid, Atlético-MG, Manchester City, Guangzhou, Istanbul e Sivasspor, além de Seleção Brasileira:
A torcida não o vê mais como o ídolo, como alguém que ela quer com a camisa do seu time.
Em 2020, ainda durante o julgamento, havia esperança. Para muitos torcedores, era preciso “dar uma chance”, acreditar até o último instante que o garoto, que garantiu o título brasileiro do Santos de 2002 em cima do rival Corinthians, não seria capaz de cometer um crime desses.
Aos olhos machistas de boa parte dos torcedores, talvez a garota abusada na boate Milão fosse apenas mais uma aproveitadora querendo acabar com a carreira de um jogador de futebol.
Aliás, essa foi uma das teses que a defesa de Robinho decidiu sustentar no caso, expondo a vítima como se tivesse se colocado naquela situação, uma vez que tinha “conduta inapropriada”, segundo os advogados. O argumento foi rechaçado na corte italiana. Mas quantas vezes não vimos o mesmo em solo brasileiro, como no caso de Mariana Ferrer, por exemplo?
É difícil crer que o atleta, que sempre foi cultuado para ser uma inspiração para as novas gerações, seja desta vez o culpado. A cada julgamento, a cada novo depoimento, a cada áudio e prova divulgados, porém, um pedaço do vidro ia se quebrando, e a fragilidade de Robinho ia ficando exposta.
Basta dar um Google no nome do jogador para entender do que se trata a nova imagem, construída por ele mesmo. Robinho continuará nas manchetes por um bom tempo, mas não pelas conquistas que teve na carreira. Com certeza, esta também é uma punição para a figura pública. Um pouquinho de Justiça enquanto as consequências de uma condenação não acontecem.
Em um Brasil que registra, segundo dados de 2020 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um caso de feminicídio a cada seis horas e meia, não há espaço para aceitar que alguém condenado por violência sexual seja ovacionado dentro de um estádio por homens, mulheres e crianças, muito menos que vista a mesma camisa de um time feminino que luta dia após dia por direitos iguais de salário e reconhecimento no esporte.
Robinho precisa sofrer todas as consequências, e o torcedor, não apenas do Santos, mas de todos os clubes, também precisa reconhecer que o futebol é - ou deveria ser - um espaço para servir de exemplo.
O campo de futebol é uma extensão da sociedade, onde os atletas são os atores, as estrelas do entretenimento. E não há mais espaço no palco para esses personagens.