A Copa do Mundo Feminina 2023 marcou, sem dúvida, mais uma conquista histórica para as mulheres no ambiente esportivo. Melhores condições, luta pela equidade, grandes públicos, aumento nas premiações… diversos motivos para comemorar.
Mas justamente o ápice, a coroação da Espanha, foi manchada por um ato de assédio, provando a enorme dificuldade que é ser mulher, em qualquer ambiente, de qualquer raça, profissão ou classe social.
A fala da meia Jennifer Hermoso após ter recebido um beijo na boca do presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, na hora da entrega das medalhas, reforça o sentimento de impotência das mulheres: “É… Eu não gostei. Mas o que eu poderia fazer ali?”
Se mesmo um evento transmitido para o mundo todo foi incapaz de evitar um beijo forçado, o que esperar de tantos outros casos de assédios “invisíveis” que acontecem dentro de casa, de ambiente de trabalho, em festas, bares e ruas, e ficam impunes, muitas vezes sequer são validados, pois a palavra da vítima não é levada em conta?
Para Rubiales, uma nota oficial divulgada nesta segunda-feira (21) foi suficiente para se redimir do fato. Ele repetiu o discurso padrão, dizendo que foi um ato de carinho (tal qual o “beijo fraternal” que a repórter da ESPN recebeu ano passado), sem má fé, e que “quando se é presidente, tem que ter mais cuidado”.
Não se trata de cuidado, mas de respeito. Nenhum momento, por mais festivo e de celebração que seja, dá direito a um homem beijar uma mulher na boca sem o seu consentimento. Que esse fato seja tão lembrado, debatido e condenado quando o título inédito da Espanha seja comemorado e gravado na história do futebol.