O estudo "Revolução da Longevidade", da AlmapBBDO, em parceria com a Qualibest e o Instituto Favela Diz, teve como objetivo mapear como a sociedade brasileira enxerga o processo de envelhecer, entender os preconceitos que circundam os maduros brasileiros e como eles se sentem em relação às barreiras sociais.
"Um resultado do trabalho mostrou que se o senso comum acha que envelhecer é finitude, o que vimos é que envelhecer é viver, é querer fazer mais e mais, é surgir novos interesses, novos assuntos a serem estudados e até novos caminhos profissionais. O 'lugar' em que os mais velhos mais gostam de se ver é na reinvenção", aponta Rita Almeida, de 63 anos, Head de Estratégia da AlmapBBDO e especialista em Pesquisas de Comportamento.
Participaram do estudo 1.355 pessoas em todo o país, sendo que foram realizadas 50 entrevistas pessoais nas ruas de São Paulo, além de incluir a formação de oito grupos intergeracionais, envolvendo pessoas de 18 a 85 anos, para capturar perspectivas e interações entre diferentes faixas etárias.
País mais envelhecido
Em três décadas, mais precisamente em 2050, o Brasil deverá ser o sexto país mais velho do mundo. A quantidade de mulheres com 60-64 será de 8 milhões, já a de homens será de 7,3 milhões. Na faixa de 65-69 anos, serão 7,6 milhões de mulheres e 6,6 milhões de homens. Mulheres com 80 anos ou mais serão 9,3 milhões e homens serão 5,6 milhões.
De acordo com o Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 22.169.101 idosos com 65 anos ou mais vivendo no país atualmente. Portanto, em comparação com o número total projetado para 2050, que seria 50.200.00 idosos, a população com 65 anos ou mais terá um aumento de aproximadamente 126%.
Segundo Rita, essa inversão da pirâmide etária do Brasil tem a ver, em primeiro lugar, com a diminuição da taxa de natalidade. "Na década de 60, por exemplo, essa taxa estava em torno de seis filhos por mulher; na década de 80, eram quatro filhos por mulher; no ano de 2000, essa taxa de fecundidade era de 2,2 e, em 2020, uma média de 1,65 filhos", explicou ela, citando dados do IBGE.
"Também tem o fato de que hoje as pessoas vivem muito mais: na década de 60, a projeção média da idade da população era de 55 anos, hoje é de 75 anos", contou.
Envelhecer é viver
Essa realidade desloca vários fatos que já eram dados como absolutos no Brasil, como por exemplo a aposentadoria em torno dos 60 anos, nas palavras de Rita. "Hoje uma pessoa de 60 anos tem tamanha vitalidade que a aposentadoria não é uma opção. Ao mesmo tempo, essas pessoas também não conseguem se colocar no mercado de trabalho (que não aceita pessoas acima de 50 anos)", afirmou.
Segundo o estudo, é possível afirmar que as pessoas mais velhas têm vidas sociais mais ativas nos dias atuais: 66% dos 50+ receberam amigos em casa recentemente e 46% afirmam estar viajando igual ou mais que há 10 anos. Além disso, 64% dos 50+ acessam as redes sociais todos os dias.
"Eles, os mais velhos, estão com pulsão de vida", atesta Rita. No entanto, existe um preconceito em relação às palavras "envelhecer" e "velho", que leva ao desejo de não se ver como tal. O estudo apontou que os jovens são os que mais têm medo de envelhecer. "Os jovens têm uma imagem muito errada do que é envelhecer, então eles têm medo do próprio nome, velho é um termo no Brasil que gera muito medo e vontade de não chegar lá. Eles têm essa ideia de que quando você envelhecer a sua vida vai ser muito diferente, você vai ser outro e tudo vai ser muito pior", explicou.
Segundo Rita, eles são os que menos conseguem dialogar com esse assunto porque não querem se ver nesse lugar e, principalmente, não entendem o real significado de envelhecer e o associam à "aparência".
"A aparência é a faceta mais visível do envelhecer e, para o jovem, é o que realmente mais afeta quando eles pensam sobre isso", disse a especialista. Para os mais velhos, no entanto, envelhecer não está ligado à aparência e, sim, ao convívio social, ao aprendizado e à independência física e financeira.
Envelhecer é pior para as mulheres
Ser velho tem um peso muito maior para as mulheres do que para os homens. Elas envelhecem mais rápido diante da sociedade e sofrem muito preconceito estético. O estudo ainda cita que elas têm menos espaço no mercado de trabalho e, quando o seu "poder de atração" diminui, elas se sentem invisíveis.
Algumas das mulheres entrevistadas disseram não se sentir com a idade que têm e, por isso, não se apropriam de seu momento de vida e também não gostam de pensar sobre o assunto.
"À medida em que uma mulher, por exemplo, de 60 anos fala que tem 60, mas que não se sente com 60, ela não se apropria daquilo, ela não vai mostrar para a sociedade o que é ter 60 anos hoje, que é uma experiência mais ativa, da própria aparência diferente do que era antes, as pessoas se cuidam mais, saem e passeiam", disse a Head de Estratégia da AlmapBBDO.
"Ao não se sentir com a idade que tem, você não pode construir essa idade da melhor maneira, você continua querendo ser da turma dos mais jovens e se sentir desse jeito", finalizou Rita Almeida.