Internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por princípio de pneumonia, a paciente Aline Vargas denunciou o episódio de racismo que sofreu de um médico plantonista do Hospital São Luiz, na unidade do bairro Jabaquara, na capital paulista. Ao perguntar sobre sua alta, o funcionário do hospital teria dito que deliberaria com a equipe, e que depois retornaria com sua "carta de alforria".
"Ele disse que conversaria com os médicos de plantão e que depois me daria a carta de alforria. Depois deu risada e saiu", relata a vítima em entrevista à Alma Preta Jornalismo. "Já tive outros momentos em que eu sofri racismo, mas esse foi muito violento. Eu tava dentro de um leito de UTI, fragilizada", completa.
Após denunciar o ocorrido para enfermeira, a vítima conta que o médico retornou ao leito para se desculpar. "Ele começou a dizer que era uma brincadeira, que ele fazia isso sempre", conta Aline. Ao tentar explicar ao médico sobre a violência de sua atitude, Aline foi ofendida novamente. "No final, ele virou e disse "até que você argumenta bem".
A paciente contou com o suporte de sua namorada, a grafiteira Nenesurreal, e de parte da equipe de enfermagem, que prestou apoio à vítima durante todo o ocorrido. Ela conta que após denunciarem o racismo do médico, o hospital antecipou a alta de Aline. "Ela ainda não estava bem, mas deram alta para ela depois desse episódio. Nem o quadro clínico dela foi passado pra gente", relata a artista.
A namorada procurou a ouvidoria do local, mas só conseguiu o formulário online do hospital. A denúncia na ouvidoria foi respondida pelo e-mail automático do sistema da Rede D'Or, no qual informava que o retorno viria em "até 5 dias úteis".
Ela conta que a resposta da ouvidoria veio por telefone. "Eles pediram desculpas mais uma vez, e se colocaram à disposição para uma retratação". Nenesurreal questionou qual seria o posicionamento do hospital em relação ao ocorrido, mas não foi respondida.
Após a alta antecipada, Aline precisou procurar atendimento médico em outra unidade de saúde, pois seu quadro de saúde não havia apresentado melhoras. Até o momento, o Hospital São Luiz não forneceu nenhum tipo de auxílio médico ou psicológico para a vítima depois de sua saída do hospital.
O Hospital São Luiz Jabaquara foi inaugurado em 2012, após compra do Hospital Nossa Senhora de Lourdes pela rede privada D'Or São Luiz. A unidade havia sido construída em 1958 com a antiga nomenclatura.
Procurada pela reportagem da Alma Preta, a Rede D'Or, responsável pelo Hospital São Luiz, afirmou em nota que "repudia qualquer tipo de discriminação, reafirma seu compromisso institucional com o enfrentamento e o combate ao racismo, e lamenta profundamente o ocorrido".
A administração do hospital também informa que "o caso em questão já foi encaminhado para o Conselho de Ética Médica, ligado ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), para a devida apuração e adoção das medidas cabíveis". Segundo a mesma nota, "a diretoria do hospital ainda retentou contato com a paciente, porém não obteve sucesso, e segue à disposição para acolhimento e demais esclarecimentos". *Matéria atualizada às 18h45 do dia 5/7, após resposta da administração do hospital. Funcionário da Defensoria Pública de São Paulo é vítima de racismo durante expediente