O papa Francisco disse neste domingo (05/02) que "a criminalização dos homossexuais é uma injustiça" e "um pecado" que "não se deve deixar passar".
As declarações foram feitas a bordo do avião papal, na volta da viagem do pontífice à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, quando questionado por um repórter sobre a perseguição sofrida por homossexuais em alguns países africanos.
Francisco reiterou o que já havia afirmado anteriormente: "se uma pessoa é homossexual e crente e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?"
"Eu tenho dito que a criminalização da homossexualidade é um problema que não deve ser deixado de lado. Acho que o cálculo está próximo de 50 países que de uma forma ou de outra os criminalizam - alguns dizem que há ainda mais. E alguns desses, cerca de 10, têm até pena de morte para homossexuais. Isso não é justo", enfatizou o Papa.
Reiterando o que havia dito em uma entrevista recente à agência de notícias Associated Press (AP), o Papa disse que as "pessoas com tendências homossexuais são filhas de Deus".
"Deus ama-os, Deus acompanha-os e condenar tal pessoa é um pecado", argumentou.
"Criminalizar pessoas com tendências homossexuais é uma injustiça. Não estou falando de grupos, isso é outra coisa, lobbies são outra coisa. Estou falando de pessoas e o catecismo da Igreja já diz que ninguém deve ser marginalizado", acrescentou.
O Papa chegou na terça-feira à República Democrática do Congo. Depois, seguiu para o Sudão do Sul, onde estava desde sexta-feira.
"Não é crime, mas é pecado"
No final do mês passado, em entrevista à agência de notícias AP, Francisco havia afirmado que as leis que criminalizam a homossexualidade são injustas e que "ser homossexual não é um crime [...], mas é um pecado".
Na ocasião, o pontífice criticou alguns bispos da Igreja Católica em algumas partes do mundo que apóiam leis que criminalizam a homossexualidade ou discriminam a comunidade LGBTQ.
O papa observou que os bispos católicos precisam passar por um processo de mudança para reconhecer a dignidade de todos e agir com "ternura, como Deus tem para cada um de nós".
Ele disse que, no que diz respeito à homossexualidade, é necessário haver uma distinção entre um crime e um pecado.
"Ser homossexual não é crime", afirmou. "Não é um crime. Sim, mas é um pecado", observou, ressaltando a importância de se distinguir entre as duas coisas. "É também um pecado faltar com a caridade ao próximo."
Tabu em dezenas de países
Em torno de 67 países ou regiões em todo o mundo criminalizam a atividade sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo. Entre estes, 11 prevêem a aplicação da pena de morte, segundo a Human Dignity Trust, uma ONG com sede no Reino Unido que trabalha para abolir essas legislações.
Os especialistas dizem que, mesmo quando as leis não são aplicadas, elas contribuem para o assédio, estigmatização e violência contra pessoas LGBTQ.
Em 2019, muitos esperavam que o papa declarasse sua oposição à criminalização da homossexualidade durante um encontro com grupos de direitos humanos que conduziram pesquisas sobre os efeitos das leis discriminatórias e das chamadas "terapias de conversão".
Francisco, no entanto, acabou por não se reunir com esses grupos, que acabaram sendo recebidos pelo 'número dois' do Vaticano, que defendeu "a dignidade de cada pessoa humana contra toda a forma de violência".
Em 2013, ao ser questionado sobre a suposta homossexualidade de um padre, ele respondeu: "quem sou eu para julgar?". Quando era arcebispo de Buenos Aires, apoiou a concessão de proteção legal a casais do mesmo sexo, uma alternativa à defesa do casamento homossexual, que a doutrina católica proíbe.
O papa, no entanto, foi criticado pela comunidade católica LGBTQ após um decreto de 2021 do gabinete de doutrina do Vaticano, segundo o qual a igreja não deve abençoar uniões homossexuais "porque Deus não pode abençoar o pecado".
le (EFE, AP, Lusa, ots)