A lenda da Papisa Joana sugere que uma mulher teria se disfarçado de homem e sido eleita papa no século IX, mas não há evidências contemporâneas de sua existência.
Todos os mais de 260 papas católicos foram homens, segundo consta nos registros oficiais do Vaticano. Mas, de acordo com uma lenda medieval, uma figura feminina teria exercido a função de papa e liderado a Igreja por um breve período no século IX.
A "Papisa Joana" teria sido uma jovem que se disfarçou de homem e acabou sendo eleita papa. A narrativa sugere que ela adotou o nome de João VIII e reinou entre 855 e 857, mas sua verdadeira identidade foi descoberta quando deu à luz uma criança durante uma procissão em Roma.
A situação teria causado grande escândalo e indignação. Algumas versões da lenda afirmam que ela morreu durante o parto, enquanto outras dizem que os cidadãos enfurecidos a arrastaram por trás de um cavalo e a apedrejaram até a morte.
A lenda da "papisa" se popularizou na imaginação medieval no século XIII, mais de 300 anos após o suposto acontecimento. A história até apareceu em crônicas escritas pelos frades dominicanos Jean de Mailly e Stephen de Bourbon.
Outra menção, no século XIV, foi feita pelo escritor Giovanni Boccaccio, que a incluiu em um livro sobre mulheres famosas. A suposta “papisa” apareceu em pinturas, esculturas e cartas de tarô. Ela foi brevemente incluída em uma coleção de bustos papais na Catedral de Siena, na Itália.
Ainda assim, não é possível afirmar que uma pontífice mulher de fato existiu. Não existem registros contemporâneos que mencionem a existência de uma mulher papa durante o século IX. A ausência de documentos ou relatos da época levanta dúvidas sobre a veracidade da história.
Além disso, o período em que a "papisa" supostamente reinou coincide com o reinado de dois papas historicamente documentados: Leão IV (847–855) e Bento III (855–858). Isso sugere que não haveria espaço para um pontificado de Joana entre eles.
Embora alguns pesquisadores e escritores, como Michael E. Habicht, argumentem que há evidências, como moedas antigas, que poderiam apoiar a existência da "Papisa Joana", a maioria dos estudiosos considera a história como um mito ou uma fábula que reflete as complexidades e tensões sociais e políticas da época em que se popularizou.
A teoria de uma sátira antipapal também é forte. Muitos historiadores acreditam que a lenda da "Papisa Joana" pode ter surgido como uma crítica ou sátira dirigida à Igreja Católica. Durante a Idade Média, a igreja enfrentava críticas e desafios, e a história de uma mulher se infiltrando no mais alto escalão e liderando a Igreja poderia ter sido uma forma de expressar descontentamento ou ridicularizar a instituição.