Daqui a dois anos, quando for aberta a Olimpíada de Paris-2024, você vai ouvir uma expressão que, a cada dia, já ganha mais peso na sociedade: equidade de gênero.
Finalmente, depois de 128 anos, serão 50% homens e 50% mulheres na disputa.
Em 1896, quando o mundo conheceu a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, 245 atletas estiveram presentes - todos homens.
Quatro anos depois, a francesa Charlotte Cooper colocou o seu nome na história ao ganhar duas medalhas no tênis e se tornar a primeira mulher campeã olímpica.
No Brasil, a evolução demorou mais. Foi apenas em 1932 que tivemos a primeira representante feminina no maior evento esportivo do mundo: Maria Lenk, que competiu na natação aos 17 anos de idade.
O avanço, porém, veio seguido de um período que mancha a história do “país do futebol”. Em 1941, o então presidente Getúlio Vargas assinou um decreto, revogado apenas em 1979: as mulheres estavam proibidas de praticar “desportos incompatíveis com as condições de sua natureza.”
Às escondidas, cercadas de preconceito, vencendo dificuldades e enfrentando tabus até os dias atuais, as mulheres seguem na luta para estarem dentro de campos, de quadras, de tatames, de piscinas, de ginásios, e onde elas quiserem.
Ana Marcela Cunha, maratonista aquática e medalhista de ouro na Olimpíada de Tóquio, comemorou a conquista com essa frase marcante: “Mulher pode ser o que quiser, onde quiser e na hora que quiser”.
Renata Silveira, que na última quarta-feira (9) fez história ao ser a primeira mulher a narrar uma partida de futebol na TV Globo, encerrou a transmissão com um recado parecido: “Meninas do Brasil, acreditem. É possível fazer e estar onde vocês quiserem".
São essas histórias e personagens, para não citar Marta, Formiga, Leila, Magic Paula, Hortência, Daiane dos Santos e incontáveis outras atletas, que servem de exemplo para novas gerações.
Se hoje uma final do futebol feminino é exibida em TV aberta, no domingo de manhã, e recebe público de 20 mil pessoas no estádio, é porque centenas de meninas venceram barreiras e conquistaram espaço, e até mesmo cortaram cabeças de bonecas para transformar em bolas de futebol, como contou Andressa Alves, jogadora da Roma e da Seleção Brasileira.
Aliás, quantas vezes você não deu, sem pensar, uma boneca de presente para uma menina, sem perguntar se ela preferia uma bola, uma raquete de tênis, ou um carrinho?
História diversas, mulheres diversas
O tabu de “meninas brincam de boneca, meninos jogam bola” reforça o estereótipo de feminilidade, assim como foi tratada a proibição do futebol para mulheres. O argumento usado foi de que seriam práticas que poderiam “prejudicar a maternidade”.
Gerou-se, então, um preconceito de que apenas mulheres homossexuais praticam o esporte, ou que seriam “mulheres masculinizadas”, bem como atletas das lutas livres, por exemplo, ou outros esportes que exigem força física.
Passaram-se 70 anos desde o decreto-lei da proibição do futebol, mas alguns julgamentos se arrastam até os dias atuais, ou apenas mudam de alvo.
Ainda vemos episódios de racismo, como já relatou a campeã olímpica do judô Rafaela Silva, ao sofrer uma abordagem ofensiva da Polícia Militar dentro de um táxi, na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro; ou os casos de transfobia sofridos pela jogadora de vôlei do Osasco Tifanny Abreu; e situações de assédio sexual envolvendo jogadores de futebol, como o episódio recente de Robinho, condenado a nove anos de prisão por violência sexual.
São todas essas pautas e todas essas mulheres, de diferentes idades, etnias, nacionalidades, credos, pesos, alturas ou costumes que vão ganhar voz por aqui. Nós acreditamos no potencial que o esporte tem de transformar e de fortalecer a independência feminina.
Prazer, somos o Papo de Mina!
Eu, Ana Cichon, e a Lívia Camillo, somos jornalistas, apaixonadas por esportes e por bons conteúdos. Dessa união nasceu a ideia do Papo de Mina, que vai trazer opiniões e as personagens que constroem a história do esporte feminino.
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Vamos seguir contando, apesar de tentarem nos calar.