“Nunca gostei do termo marmita de casal, mas em uma fase da minha vida eu gostei muito de ser uma. O terceiro elemento sempre acaba tendo mais atenção, é o diferente da relação, portanto, é fácil perceber o quanto sua presença é desejada, o que já causou até ciúmes em algumas ocasiões. Afinal, só temos certeza do que vamos sentir na hora da experiência, porque cada pessoa desperta uma coisa diferente na gente.
O primeiro convite que recebi foi de um casal de amigos. Eu passava por um momento delicado de autoestima, mas resolvi aceitar. Foi diferente transar com pessoas que tinham visivelmente acordos previamente estabelecidos que eu só fui descobrindo pelo caminho.
Eu já tinha ficado com outras mulheres, mas só havia tido relações sexuais com uma só, e não tinha sido muito bom. Até então, eu não me via como bissexual, considerava bi somente as pessoas que se relacionavam amorosamente com pessoas de ambos os sexos, e não era meu caso até o momento. Meus afetos eram heteronormativos, vamos assim dizer. Mas ter uma experiência com outra mulher na condição de "marmita" começou a me abrir para novas formas de olhar para minha sexualidade.
Então entrei numa onda de convites de casais próximos, seja porque era amiga do namorado ou da namorada. E fui me aventurando e descobrindo o prazer em estar com aquelas mulheres, mesmo que meu tesão maior ainda fosse nos homens.
Uma delas não era só uma simples amiga, era uma amiga de longa data que abriu para mim a possibilidade do marido dela estar com outra mulher pela primeira vez. Me ver com vontade de estar também com ela, mesmo a gente se amando como amigas, me mostrou que afetos são afetos e que estender esses afetos ao plano o sexual é uma possibilidade. Nossa amizade nunca mudou e carregamos essa experiência em nossas vidas. Mais uma aventura juntas de tantas que já vivemos.
Então me apaixonei pela primeira vez por uma mulher. Tivemos nosso envolvimento, mas ela começou a namorar um homem e me chamou para ser 'marmita de casal'. E lá fui eu mais uma vez, mas, agora, convicta da minha bissexualidade e feliz por saber que não é uma disputa sobre qual gênero que eu gosto mais que define se sou ou não bissexual. Estou aberta viver minha sexualidade o como ela se apresentar. E ser 'marmita de casal' teve um papel fundamental nesse processo de aceitação.”
Relato anônimo feito ao Terra.