Jarbas Mielke de Bitencourt e Mikael Mielke de Bitencourt são pais de Antonella, o primeiro bebê da região Sul do país a ter o DNA dos dois pais. Ela nasceu no Dia Internacional Contra a Homofobia e a Transfobia, celebrado em 17 de maio.
O Dia Internacional de Combate à Homofobia, à Bifobia e à Transfobia, celebrado em 17 de maio, ganhou mais um significado importante para o casal Jarbas Mielke de Bitencourt, 48 anos, e Mikael Mielke de Bitencourt, 35 anos, do Rio Grande do Sul. Isso porque, nesta data, eles tiveram um evento marcante em suas vidas: o nascimento de Antonella, filha do casal.
Além de fazer aniversário em uma data tão importante para a comunidade, Antonella ainda entrou para a história ao ser o primeiro bebê da região Sul do país a ter o DNA dos dois pais. Segundo Jarbas, após um procedimento de fertilização in vitro (FIV) que mobilizou família e amigos. "Nós não sabíamos que isso era possível", afirma o casal em entrevista ao Terra NÓS.
Jarbas e Mikael, que completam 16 anos juntos em setembro, optaram pela fertilização in vitro após a tentativa de uma adoção que não deu certo.
"Nós entramos em processo de luto e uma depressão profunda", contou Jarbas, gerente de vendas, ressaltando que o marido, Mikael, precisou se ausentar da profissão de fotógrafo. "Ele trabalha muito com público infantil, ensaio fotográfico de mulheres gestantes, de crianças e aniversários de um ano. Então, para ele, seria difícil lidar com esses clientes e lembrar da adoção que não aconteceu".
O processo
A fase difícil começou a ganhar outro tom quando uma amiga do casal, Jéssica Konig, falou sobre FIV e se ofereceu para ser a barriga solidária que iria gestar o bebê deles. "Então, começou uma nova história de paternidade, gerando a nossa filha através do processo de barriga solidária", afirma o casal.
Após procurarem por uma clínica de reprodução assistida, a irmã de Mikael, a estudante Marrienara Bortolanza, 22, se ofereceu para doar os óvulos, enquanto Jarbas doaria o sêmen. "Nós descobrimos que no momento que a irmã do Mikael doasse os óvulos e eu utilizasse o meu sêmen, a nossa filha teria o DNA dos dois pais: o meu, pelo meu próprio material, e o do Mikael, pelo DNA da irmã dele", disse Jarbas ao Terra NÓS.
Eles, no entanto, ainda precisaram de autorização do Conselho de Medicina da região para que a amiga Jéssica pudesse ser a barriga solidária. "Se a barriga solidária tem um grau parentesco com os papais até quarto grau, não precisa nenhum tipo de autorização jurídica, mas como ela não é nada nossa de sangue, tivemos que entrar com o pedido", explica o gerente de vendas.
Após conseguir a autorização e ter feito a transferência embrionária, Jéssica, que também tem filhos, começou a sentir dores pelo corpo cinco dias depois e teve certeza de que estava grávida. "Ela marcou um café na nossa casa e nos deu um presente, uma caixinha. Ali tinha um texto em que ela relatava que estava grávida", relembraram Jarbas e Mikael.
Antonella de Bitencourt
Com o "positivo mais esperado do ano" pelo casal, os pais começaram a se preparar para a próxima etapa: o nascimento. Eles, que fizeram uma festa de chá de fraldas para 200 pessoas, deram todo o suporte para Jéssica e estiveram em todas as consultas com ela.
"Antonella nasceu às 20h da noite do dia 17 de maio e, automaticamente, nós fomos postar uma foto no Instagram e abriu um banner desses órgãos LGBT e tinha uma bandeira parabenizando pelo Dia Internacional Contra a Homofobia e a Transfobia no mundo", contou Jarbas, que lembra de ter gritado no hospital de tanta emoção.
Emocionados, eles abraçaram Jéssica e a médica responsável. "Ela nasceu em um dia que é um marco mundial da luta contra o preconceito e isso vai ficar marcado para sempre. Os papais dela, um casal homoafetivo, lutam contra o preconceito e pela inclusão", destacou o casal.
O nosso objetivo é mostrar a naturalidade da construção familiar de um casal homoafetivo. É possível, sim, um casal homoafetivo ter a sua própria família.
Eles ainda ressaltaram que ter um filho com o DNA dos dois pais não era algo que consideravam extremamente importante. "Foi um bônus. Sim, é possível outros casais homoafetivos também terem um bebê com o seu próprio DNA, mas não gostamos de remeter à nossa história de que isso era uma coisa importante para nós", contaram ao Terra NÓS.
"Nós começamos a nossa história de paternidade através de uma adoção que não deu certo. E, depois de toda a tempestade que a gente viveu, começou a vir só coisas boas", ressalta o gerente de vendas.
Hoje, com Jarbas de férias do trabalho e Mikael trabalhando como autônomo, eles dedicam todo o tempo com os cuidados da filha. "Antonella é uma bebê maravilhosa, uma criança abençoada. Ela é um símbolo contra o preconceito. Ela veio para fazer uma quebra de paradigmas", afirma o casal, que pensa em ter mais um filho.