Lugar histórico para o movimento LGBTQIA+, o Largo do Arouche, na zona central da capital paulista, recebeu nesta sexta-feira (31) a 7ª edição da Marcha do Orgulho Trans da Cidade de São Paulo, que reuniu 20 mil pessoas, segundo dados fornecidos pela organização do evento.
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Com o tema "Renascença de Gênero", a concentração para a Marcha começou às 11h horas e foi até as 16h, momento em que começou a caminhada pelas ruas da região da República e quando o público estava maior. A passeata aconteceu embalada pela apresentação do grupo Ilê Aiyê, marcando a presença do movimento negro.
Após o percurso, a Marcha voltou ao Largo do Arouche, onde a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) discursou ao som de gritos a chamando de "presidenta", e foi encerrada pelos shows das cantoras Jaloo e Majur.
"Essa é a 7ª edição e haverá muitas outras. É noite de luta, é noite de festa, é noite de ocupação do espaço público, porque a rua é nossa. O Brasil é nosso. Hoje, as cores de nossas bandeiras se misturam com o verde e o amarelo", disse Hilton durante o discurso.
Para esta edição, a organização do evento pediu que o público comparecesse usando roupas nas cores da bandeira do Brasil. "Quero resgatar as cores da nossa bandeira, que foram roubadas pelo fascismo e já passou da hora de restituirmos que o Brasil é nosso, o Brasil é travesti, o Brasil é bicha, é de todo mundo", afirmou Ryanna, de 23 anos, que foi à Marcha pela primeira vez.
Por mais que a maior parte do público não tenha aderido à ideia de ir de verde e amarelo, diversas pessoas presentes estavam vestidas nessas cores e carregavam bandeiras do Brasil, algo que não era comum em edições anteriores. "É para a gente resgatar cada vez mais a nossa cultura, nossa bandeira, nossas cores e mostrar que ela é diversa. Nossa vida é importante e ela faz parte do verde, amarelo e azul", garantiu Jorge, de 29 anos, que se identifica como uma pessoa não-binária.
O azul-bebê, rosa-claro e branco, da bandeira trans, também pintaram o Largo do Arouche, e foram as escolhidas pelo casal Júpiter Sol e Aclor, de 18 e 19 anos, pessoas não-binárias que foram à Marcha pela primeira vez.
"Infelizmente, esse tipo de movimento não tem nas periferias. Existe um medo de estar nas ruas e aqui é outra sensação, mas é muito triste ter que me deslocar até aqui para conseguir fazer essas reuniões", diz Júpiter, que vive no Capão Redondo, zona sul de São Paulo.
Ao longo do dia, diversas personalidades do movimento trans, como ativistas, pesquisadores, políticas e servidores públicos, discursaram para o público presente e ressaltaram a necessidade de existir a Marcha Trans.
"No Largo do Arouche, existem movimentos sociais LGBTQIA+ desde a década de 1950, são 70 anos de ocupação LGBTQIA+ nessa região. Nós somos, infelizmente, o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, mas também somos o país que mais tem um movimento pujante e organizado. É importante estarmos aqui pedindo políticas públicas e pedindo que parem de matar as travestis, pedindo respeito", afirmou Carolina Iara, co-deputada estadual de São Paulo pela Bancada Feminista (PSOL).
"O movimento seria desnecessário se fôssemos pessoas respeitadas, a gente não precisaria fazer manifestação nem ter uma data para isso, deveria ser uma data apenas para comemorar a nossa existência. Estamos aqui ainda lutando para nos mantermos vivos e vivas. Estamos dando um recado para a sociedade: não adianta invisibilizar a nossa existência, nós não vamos aceitar. Nós existimos, vamos resistir e ocupar todos os lugares", completou Leonara Áquilla, jornalista e Coordenadora Municipal de Diversidade da Cidade de São Paulo.