A 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo foi marcada pela pluralidade de idades e corpos na Avenida Paulista. Ao longo deste domingo, 11, o sentimento de orgulho e esperança foi compartilhado entre as pessoas que participaram do evento, em especial aquelas com idades acima de 50 anos: participantes que a reportagem do Terra entrevistou celebraram a diversidade de gerações encontradas na festa e a possibilidade de celebrar seus direitos em um ambiente seguro.
Emocionadas em ver as pessoas “tão livres, leves e soltas", Lilian Paula, de 57 anos, e Regina Célia, de 54, têm quatro filhos e dois netos. Juntas há 25 anos, elas participam da Parada LGBT+ há 15. O relacionamento, que, de acordo com as duas, "é de muita parceria", se iniciou nas ruas de São Paulo, quando ambas viviam em situação de rua.
"Na época, eu ainda não tinha me relacionado com mulheres, mas eu descobri que tenho AIDS e ela falou 'eu te amo da mesma forma'. Aí não teve jeito. Eu me entreguei, o 'bicho pegou', e foi a melhor escolha da minha vida", revelou Lilian.
O evento, na opinião do casal, merece ser respeitado, porque "além de reunir pessoas de todos os gêneros e orientações sexuais, é um evento do cidadão comum e trabalhador".
"Esse é um evento de maioria trabalhadora. Cabeleireiros, faxineiros, cozinheiros. Ela [Regina], por exemplo, é cozinheira e eu sou uma vendedora dos salgados que ela faz dentro dos ônibus de São Paulo. É muito louca e honesta nossa vida", riu Lilian.
"É lindo ver pessoas jovens - e que poderiam ser nossos filhos - se sentindo livres e felizes, coisa que na nossa época era tão difícil. Celebrar o amor e as diferenças é muito importante e é coisa que precisa ser feita todo dia", opinou Regina.
Processo de aceitação
Marcos Vinícius tem 55 anos e decidiu participar da Parada LGBT+ de São Paulo vestido de "diaba carnal". Vestindo uma sunga cor de rosa, tiara de chifres e um blazer trazendo um dildo --objeto que imita um pênis-- em um dos bolsos, o cenógrafo afirmou que a escolha da fantasia, que ele próprio produziu, é uma forma de celebrar a liberdade sexual e a diversidade de corpos.
"Essa fantasia traz um processo de aceitação com meu corpo e tem o propósito de dizer parar as pessoas que elas podem sim vestir, ser e viver o que elas quiserem", afirmou Marcos. Participante da Parada LGBT+ há 18 anos, o cenógrafo percebe uma maior organização do evento e uma diversidade de pessoas mais ampla. Marcos conta que tem se admirado cada vez mais em ver as pessoas se sentindo mais "livres" em relação à época que começou a participar do evento.
"Participar da Parada é, antes de tudo, um ato político e de libertação. É um momento de celebrarmos os direitos conquistados e, pessoalmente falando, um momento para eu me sentir livre e ser o que eu sou à vontade."
Apesar de não ser uma pessoa LGBTQIA+, Andreza Alves de Macedo Lopes, de 56 anos, participa da Parada há 14 anos para acompanhar seus quatro filhos: três homens gays e uma mulher bissexual.
Vestida de 'medusa' para coordenar sua fantasia com a dos filhos na temática "mitologia grega", Andreza conta que todos os anos ela e sua família definem um tema e se preparam juntos para o evento.
"A Parada é um momento nosso. Todo ano a gente pensa no tema da fantasia e escolhemos um dia da semana para irmos à (Rua) 25 de março juntos para escolhermos os detalhes das nossas fantasias, que a gente mesmo produz", declarou. Com lágrimas nos olhos, Andreza falou sobre o orgulho dos filhos e a importância de apoiá-los.
"Venho para celebrar o orgulho que sinto pelos meus filhos, pela coragem deles serem o que são. Em um mundo tão maldoso como o nosso, o amor precisa existir dentro de casa. Estarmos juntos aqui só fortalece nossa relação", afirmou.
"Felizes e e sendo o que somos”
A drag queen Amanda do Chapelão, de 57 anos, ficou conhecida no Rio de Janeiro depois de transformar um rebatedor de luz em um chapéu, sua marca registrada. Usando um vestido criado com o pano de um cobertor antigo, Amanda conta que se define como “artista de nascença” e viajou até São Paulo apenas para participar da Parada do Orgulho LGBT+ pela sua segunda vez.
“É muito importante estarmos aqui para as pessoas verem que a gente existe, sempre existiu e sempre vai existir. A melhor maneira de provar isso é estando aqui, felizes e e sendo o que somos”, opinou. Amanda, que é performada por um homem gay - o qual ela não quis revelar o nome - conta que sua história de aceitação não foi simples.
"Para mim, na minha idade, foi muito difícil no começo. Tive que namorar mulheres para provar algo que eu não era, porque existia muito preconceito", lamentou. "Eu fui me aceitar como homem gay só aos 25 anos de idade. Hoje, vemos muito jovens se assumindo novinhos, graças as que se aceitaram lá atrás, elas estão podendo se assumir aqui na frente", opinou.
Para ela, estar participando da Parada é uma "libertação para além da libertação de ser quem se é". "Não deve existir armário para nada e nem para ninguém. Todo mundo tem que se aceitar como é. E não é uma escolha. Se eu pudesse escolher, eu escolheria nascer gay de novo, porque amo e me orgulho do que sou. A única diferença é que gostaria de nascer um gay rico", riu Amanda.
Terra na Parada
Pelo segundo ano consecutivo, o Terra é media & business partner oficial do maior evento popular a céu aberto do mundo, a 27ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, reforçando o nosso compromisso com a diversidade, potencializando as vozes e as lutas pela causa.
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