O papa Francisco faz um duro ataque à presença de homossexuais nos seminários. Durante uma reunião a portas fechadas com mais de 200 bispos italianos, que na última segunda-feira, 20, inauguraram a assembleia geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI) na Sala do Sínodo, o Pontífice lançou severos apelos por uma seleção mais rigorosa no acesso aos seminários.
Ele usou termos bem incisivos e até apontando o dedo - como relatado pelo site Dagospia, seguido por outros meios de comunicação - contra o excesso de "frociaggine" [termo em italiano que pode ser traduzido como "viadagem"].
O severo pronunciamento do pontífice, que surpreendeu os presentes, é confirmado por várias fontes. Para Jorge Bergoglio, portanto, homossexuais não devem ser admitidos nos seminários, indo da posição anterior de "quem sou eu para julgar" para uma postura agora muito mais rígida, pelo menos no que diz respeito à seleção e formação de sacerdotes.
O tema tem sido objeto de debate há muitos anos, e uma instrução do dicastério vaticano para o Clero de 2005 - sob o papado de Bento XVI - confirmada em 2016 pelo papa Francisco, estabeleceu que "a Igreja, embora respeitando profundamente as pessoas em questão, não pode admitir ao Seminário e às Ordens sacras aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente enraizadas ou apoiam a chamada cultura gay".
Os bispos italianos, por sua vez, na última assembleia realizada em Assis, haviam debatido sobre a possibilidade de restrições mais sutis, sentindo-se encorajados pelas aberturas anteriores de Bergoglio sobre o tema da homossexualidade.
Apesar de muitas contestações, um emenda havia sido aprovada que se limitava a distinguir entre "atos" e "tendências", reafirmando a obrigação do celibato para todos os seminaristas, homossexuais e heterossexuais, e abrindo assim as portas dos seminários para os candidatos gays ao sacerdócio comprometidos com a opção do celibato.
Mas durante o encontro de uma hora e meia com os prelados, o Papa efetivamente bloqueou o caminho: portanto, respeito sim para a pessoa gay que bate às portas do seminário, mas estabelecendo barreiras rígidas ao acesso para evitar que o homossexual que escolhe o sacerdócio acabe levando uma vida dupla, com todas as consequências negativas que isso acarreta.
E para reforçar sua opinião e ser claro até mesmo com uma piada, Francisco teria reclamado explicitamente do excesso de "viadagem" em certos seminários italianos. Tanto a CEI quanto o Vaticano evitaram comentários sobre a fala do Papa hoje (27).
No entanto, certo nervosismo se manifestou na forma abrupta com que os guardas afastaram os jornalistas, formando um cordão em torno do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, durante a missa na Basílica de Santa Maria Maior para o 61º Dia da África.
Reações, diametralmente opostas, não faltaram da comunidade LGBTQIA+ e também de católicos do "Family Day".
"O Papa recua nos direitos LGBTQ+ e discrimina os seminaristas gays. Se tal declaração discriminatória for confirmada pela Igreja, pedimos que o governo bloqueie os fundos do 8x1000 [imposto pago pelos italianos destinado à Igreja Católica]", declarou Fabrizio Marrazzo, porta-voz do Partido Gay LGBTQ+.
"Além disso, gostaríamos de entender como os seminaristas gays serão identificados: farão buscas? Usarão a Santa Inquisição? Ou submeterão os padres a hits de músicas de cantores LGBTQ+ para ver suas reações? Tudo isso além de ser discriminatório é também ridículo", acrescentou.
"Ovacionem o Papa em pé. Já era hora. Absit iniuria verbis. Justo alguns dias antes da Parada do Orgulho LGBT. E agora todos vão se abençoar", comentou, por sua vez, o ex-senador da Liga Simone Pillon.