Evangélica, Monique Evans fez questão de ter um casamento religioso com Cacá Werneck. Porém, como se tratam de duas mulheres, elas não poderiam se casar em qualquer igreja. Então, a cerimônia que acontece nesta quinta-feira (16) será realizada pelo pastor Marcos Gladstone, amigo da modelo, gay e que há 17 anos fundou uma igreja inclusiva.
"A Monique tem uma história com a gente desde 2017, quando ela se aproximou muito. Como ela tinha se tornado evangélica e vivia em uma relação homoafetiva, creio que ela quis se aproximar de igrejas que a acolhessem", conta o pastor em entrevista ao Terra.
Por mais que realize cerca de 20 cerimônias homoafetivas por ano, o pastor considera que o casamento de Monique vai ser especial, pois conhece de perto a história de amor da modelo com Cacá. "A gente montou detalhadamente tudo com a equipe dela, vai ter uma entrada, um recital de poesia e um momento em que elas vão trocar os votos uma para a outra", detalha.
Na festa, Monique e Cacá vão se casar no religioso e no civil. "Apesar de ser muito importante o reconhecimento legal de uma união, a gente fazer isso diante da nossa fé é muito importante", opina Gladstone.
A igreja
Assim como Monique, Marcos também tem um histórico com a religião cristã. Antes de ser pastor e de fundar a própria congregação, ele frequentava um local evangélico tradicional e conservadora. "A igreja não me dava as respostas devidas para a minha orientação afetiva sexual. Quando falei para o meu pastor 'sou gay', ele me disse para arranjar uma namorada e casar, porque isso era apenas um momento. Já estava quase me casando, estava há cinco anos noivo e estava vendo que nunca ia deixar de ser quem eu era", relembra.
Então, ele resolveu se assumir e quando fez isso a, então sogra, espalhou para todos os conhecidos que ele é gay. Sem poder frequentar os mesmos ambientes que antes, Gladstone se mudou para os Estados Unidos, onde conheceu a teologia inclusiva.
De volta ao Brasil, Marcos fazia um trabalho em um centro religioso na Lapa, centro do Rio de Janeiro, onde conheceu o marido, Fábio Inácio, que chegou a ser pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, mas deixou a instituição quando assumiu publicamente ser um homem gay.
Juntos, os dois fundaram a Igreja Contemporânea em 2006. Passados 17 anos, os dois pastores são casados no civil e adotaram quatro crianças. Assim como a família dos fundadores, a congregação também cresceu, está presente em quatro estados – Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia – e tem dois mil membros.
Ao longo dos quase 20 anos de existência, a Igreja Contemporânea já sofreu diversos ataques LGBTfóbicos. "Tenho o coração blindado para isso, mas a gente sabe o que está no coração dessas pessoas conservadoras. São muitos ataques todos os dias, não tem um dia que não tenha comentários terríveis no meu Instagram. Já jogaram uma bomba na Igreja de Madureira, porque era do lado de uma igreja bem grande da Assembleia de Deus, então passavam evangélicos bem conservadores por lá", conta.
"No passado, Marcos, Fabio e os outros fiéis da igreja sofreram diversos ataques, mas o pastor analisa que esses comportamentos preconceituosos voltaram a ganhar força. "A gente pode nos casar, ter nossos quatro filhos adotados no nosso nome, teve uma evolução, mas nos últimos anos teve um grande retrocesso. Começaram a achar que podem falar e fazer qualquer coisa, a gente teve até membros espancados", conclui o pastor.