Primeira Parada LGBT+ no Brasil: quando foi e tudo o que você precisa saber

Veja quando foi a primeira Parada LGBT no Brasil e a sua origem

9 mai 2024 - 05h00
(atualizado às 15h30)
Resumo
A primeira Parada LGBT+ do Brasil ocorreu em São Paulo, no dia 28 de junho de 1997, tendo como objetivo dar maior visibilidade à comunidade LGBTQIA+ e reivindicar direitos e políticas públicas. O evento evoluiu ao longo dos anos e, em 2022, contou com a presença de 4 milhões de pessoas.
A primeira parada LGBT+ do Brasil ocorreu em São Paulo, no dia 28 de junho de 1997
A primeira parada LGBT+ do Brasil ocorreu em São Paulo, no dia 28 de junho de 1997
Foto: Reprodução: Cristina Gallo/Ministério da Cultura/Wikimedia Commons

A rebelião de Stonewall, desencadeada por uma incursão policial, em 1969, no Stonewall Inn, um bar de Nova York frequentado, principalmente, por pessoas LGBTQIA+, se tornou um símbolo de resistência contra a opressão e a discriminação dirigidas à comunidade. A partir desse acontecimento emblemático até os dias de hoje, surgiu a Primeira Parada LGBT+ do mundo, nos Estados Unidos, que depois se expandiu para diversos lugares e inspirou a primeira Parada LGBT+ do Brasil.

Primeira Parada LGBT no Brasil

Não há um consenso absoluto sobre a primeira parada LGBT+ do Brasil. Para uma parte dos pesquisadores, a primeira parada LGBT+ do Brasil teria ocorrido em São Paulo, no dia 28 de junho de 1997. O evento, que reuniu cerca de 2 mil pessoas, teve como principal objetivo dar uma maior visibilidade para comunidade LGBTQIA+ e lutar contra a discriminação, marcando o início de uma tradição que continua até os dias atuais. 

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No entanto, ativistas da comunidade LGBTQIA+ consideram a marcha realizada após a 17ª Conferência da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA), no Rio de Janeiro, em 1995, como a primeira Parada LGBT+ do Brasil. No ano seguinte, aconteceu uma caminhada na Praça Roosevelt, em São Paulo.

“A grande novidade no Rio de Janeiro foi aquela parada. Eu fiquei muito feliz, porque via um posicionamento que estava começando a ser mais público, mais político da questão LGBT. Estavam tirando a questão LGBT do armário”, afirmou a fotógrafa Claudia Ferreira para a Agência Brasil. Ela mantém um site com registros de movimentos sociais históricos onde também se encontram marcos do movimento LGBTQIA+.

"Mas a primeira parada pensada como tal foi a de São Paulo em 1997", declarou a pesquisadora Regina Facchini à revista Gama em 2020. A parada de São Paulo é, atualmente, uma das maiores e mais importantes paradas LGBT+ do mundo.

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O Brasil antes da Parada

Antes das paradas LGBT+ no Brasil, a comunidade LGBTQIA+ enfrentava uma série de desafios e um contexto de forte discriminação e invisibilidade social. A sociedade brasileira era predominantemente conservadora e a aceitação da diversidade sexual e de gênero era muito limitada. A homossexualidade, por exemplo, era frequentemente vista como um tabu e muitas vezes associada a estigmas e preconceitos enraizados na sociedade.

Origem

A inspiração para a Parada LGBT+ do Brasil veio de movimentos semelhantes que já ocorriam em outros países, especialmente a Parada LGBT+ de Nova York, nos Estados Unidos, que teve início em 1970 para marcar o aniversário da revolta de Stonewall.

Organização

A Parada do Orgulho de SP é organizada pela Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP) desde 1999, ano em que foi fundada a instituição, que surgiu pela necessidade do evento ser realizado de uma maneira mais organizada, tendo em vista que a Parada cresceu ano após ano desde a primeira edição.

Quais os objetivos?

Além de ser um movimento de celebração da diversidade de identidades de gênero e orientações sexuais, a Parada também serve como uma oportunidade para denunciar discriminações e violências enfrentadas pela comunidade LGBTQIA+ e para reivindicar direitos e políticas públicas. O evento é um símbolo de resistência e empoderamento da comunidade.

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Impacto da Parada LGBT+

No contexto social conservador e com altos níveis de discriminação contra a comunidade LGBTQIA+, muitas pessoas viram a Parada como um ato de coragem e resistência por parte dos ativistas e participantes. Apesar de algumas críticas e oposição, a Parada também gerou uma série de discussões importantes sobre diversidade sexual e de gênero. 

No início dos anos 2000, a Parada LGBT+ de São Paulo ganhou patrocínio do Ministério da Saúde e vários estabelecimentos começaram a se programar para o evento. Os hotéis, por exemplo, passaram a oferecer pacotes para casais LGBTQIA+.

Legado e evolução

O evento marcou o início de uma nova era de visibilidade, resistência e luta pelos direitos LGBTQIA+ no país. Ao longo dos anos, a Parada LGBT evoluiu de uma manifestação inicialmente tímida para se tornar uma das maiores e mais importantes do mundo. 

Em 2006, a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo foi incluída no "Livro dos Recordes" (Guinness Book) e considerada o maior evento do gênero no mundo. Na época, em sua 10ª edição, o evento contou com 2,5 milhões de participantes.

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E anos depois, em 2022, a Parada LGBT+ de São Paulo bateu o recorde de 4 milhões de pessoas, de acordo com a organização. O relatório da empresa Observatório de Turismo e Eventos, da São Paulo Turismo (SPTuris), confirmou que o evento teve o dobro de turistas em comparação com o evento de 2019.

Desafios e conquistas

Ao longo dos anos, o poder legislativo brasileiro tem enfrentado desafios significativos no que diz respeito aos direitos LGBTQIA+, como o arquivamento do projeto de lei 122/2006, conhecido como Lei Anti-Homofobia, que visava criminalizar a homofobia no país.

No entanto, a comunidade também teve algumas conquistas: como o reconhecimento da união estável homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011. Além disso, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou, em 2013, uma resolução que garante o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Inclusão e representatividade

A inclusão e representatividade na Parada LGBT+ e nos movimentos de direitos humanos são importantes para garantir que todas as pessoas LGBTQIA+ se sintam reconhecidas e respeitadas. Embora esses espaços sejam necessários para promover a visibilidade e a luta pelos direitos dessa comunidade, é crucial reconhecer que algumas vozes dentro da comunidade LGBTQIA+ ainda são marginalizadas e invisibilizadas.

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Por exemplo, pessoas LGBTQIA+ com deficiência muitas vezes enfrentam barreiras adicionais de acessibilidade em eventos, como a Parada, e podem não se sentir totalmente incluídas ou representadas. Assim como pessoas negras e trans, que vivenciam formas específicas de discriminação e violência nesses lambientes.

Futuro

Como um dos maiores eventos do Brasil, a Parada LGBT+ de São Paulo tem sido um espaço importante para promover visibilidade, conscientização e mobilização em torno das questões que afetam a comunidade LGBTQIA+ desde 1997, e tem o objetivo de continuar sendo nos próximos anos.

"Eu sei que não vamos mudar tudo o que queríamos no Brasil, mas só de juntar pessoas, levar temas para as ruas, já é um ato político giganteco. Não tenho dúvidas de que a Parada do Orgullho LGBT é a maior manifestação democrática do país", disse o sócio-fundador da APOLGBT-SP, Nelson Pereira, em 2022 ao Terra NÓS.

"Cada dia é um obstáculo novo e para a gente voar, precisamos de asas", diz Paulette Pink sobre o tema da Parada LGBT+.
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*Este conteúdo foi atualizado com informações da marcha realizada após a 17ª Conferência da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA), no Rio de Janeiro, em 1995, em 09/05.

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Fonte: Redação Nós
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