O CEO da Pride in London, Christopher Joell-Deshields, primeira pessoa negra a liderar a maior parada LGBT+ do Reino Unido, conversou com o Terra NÓS sobre pessoas LGBTQIA+ negras, o aumento dessas pessoas nas paradas do orgulho e sobre a sua passagem pelo Brasil.
Negro e gay, o CEO da "Pride in London", Christopher Joell-Deshields, carrega o título de primeira pessoa negra a liderar a maior parada LGBTQ+ do Reino Unido, que acontece em Londres, na Inglaterra. Ele, que começou na organização como voluntário em 2016, assumiu a posição de diretor executivo em 2021 e, no ano seguinte, se tornou CEO em tempo integral.
Casado e pai de duas filhas gêmeas, ele sabe como é ser uma minoria em uma comunidade que já é marginalizada. "Eu experienciei em primeira mão os desafios agravados e as barreiras únicas que as pessoas LGBTQ+ negras enfrentam, desde o racismo generalizado dentro de certos espaços LGBTQ+ até a homofobia e a transfobia que prevalecem em muitas comunidades negras", contou em entrevista exclusiva ao Terra NÓS.
E, ao longo dos anos, Christopher tem testemunhado o aumento gradual, mas ainda insuficiente, da participação e da visibilidade de pessoas LGBTQIA+ negras em muitas paradas do orgulho.
"De artistas drag queens a ativistas trans e jovens LGBTQ+, a diversidade da nossa comunidade está começando a ser refletida nos palcos do orgulho, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Não vamos parar de lutar até que todos nós tenhamos um lugar à mesa", disse.
"É crucial que pessoas negras, pardas e outras pessoas LGBTQ+ marginalizadas não estejam apenas presentes, mas empoderadas para moldar a visão, a estratégia e a programação desses eventos. Suas perspectivas, experiências e ideias radicais são essenciais para desmantelar o racismo sistêmico que há muito atormenta nosso movimento. Quando o microfone é dado às pessoas LGBTQ+ negras, toda a comunidade se beneficia."
Parada LGBT+ de São Paulo
Christopher Joell-Deshields relembrou sua passagem pelo Brasil. Ele esteve presente na Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, que aconteceu em 2 de junho, à convite da organização British Council. Ao Terra NÓS, ele destacou que ficou maravilhado com a grandiosidade e a energia do evento.
"Foi inspirador ver tantas pessoas se unindo para apoiar e elevar umas às outras. A grandiosidade do evento, as expressões artísticas e o senso de comunidade foram todos verdadeiramente marcantes", afirmou.
Segundo ele, eventos como paradas LGBTQIA+ "têm um impacto global imenso no avanço dos direitos e da visibilidade da comunidade".
"Quando um número impressionante de pessoas celebra suas identidades e exige igualdade, isso repercute muito além da comunidade local. Demonstra ao mundo que as pessoas LGBTQ+ não serão silenciadas e que nossa luta pelos direitos humanos universais continua."
O CEO da "Pride in London" disse que tanto o Reino Unido quanto o Brasil enfrentam desafios no que diz respeito aos direitos LGBTQIA+. "Mas acredito que há muito o que podemos aprender um com o outro. As pessoas LGBTQ+ no Reino Unido e no Brasil fizeram progressos tremendos nos últimos anos, desde a igualdade no casamento até a proteção dos direitos de identidade de gênero", disse ao Terra NÓS.
E ainda destacou que os desafios também estão dentro das organizações LGBTQIA+, incluindo a "Pride in London". "Embora tenha havido progresso, ainda existem muitas comunidades LGBTQ+ marginalizadas que não se sentem totalmente vistas ou empoderadas pelos eventos da Pride", explicou.
"Como a primeira pessoa negra a ocupar o cargo de CEO na Pride in London, espero inspirar outras a reivindicarem seu lugar de direito à mesa e saber que suas vozes e experiências não apenas são ouvidas, mas centralizadas", finalizou Christopher.