Em um dos poucos dias de folga de hospital, Daniel Rocha Braz se refugia na cozinha da casa onde mora, em Rio Claro, no interior de São Paulo, para poder conversar no telefone sem ser tão interrompido pelos cinco filhos, que adotou com o marido Jhonatan Wiliantan, morto em março de 2023 por complicações de dengue hemorrágica.
A história do técnico de enfermagem ganhou repercussão nacional semanas após a morte do companheiro, quando foi ao ar a participação do casal no quadro The Wall, do Domingão com Huck. No programa de televisão, eles contaram como haviam adotado Douglas, de 13 anos, Wendel, de 9, Harry, de 7, Yarah, de 6, e João, de 3 anos, todos irmãos e parentes distantes de Jhonatan, que morreu poucos dias depois da gravação do programa.
Após a morte do companheiro, o enfermeiro teve medo de perder a guarda das crianças, pois elas não estavam registradas em seu nome. Quando Jhonatan decidiu adotar os filhos, Daniel teve ressalvas por eles não terem melhores condições financeiras, nem uma casa própria. Mesmo assim, aceitou o desafio da paternidade, mas em um primeiro momento não quis ser o responsável legal pelas crianças.
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"Quando o Jhonatan faleceu, as crianças passaram a ser do Estado. Uma advogada se habilitou para ajudar e entrou de imediato no processo de adoção. Primeiro, consegui a guarda provisória no meu nome e foi nesse ano que consegui a adoção póstuma, com o meu nome e do Jhonatan na certidão de nascimento das crianças", conta Daniel.
Além do medo de perder os filhos, Daniel também teve que lidar com a insegurança financeira. Quando o companheiro era vivo, ele tinha três empregos, e Jhonatan se dedicava integralmente às crianças e às tarefas domésticas. Sem o parceiro, não foi possível continuar dessa maneira, e foi uma vaquinha divulgada pela Globo e pelo próprio Luciano Huck que o salvou.
A arrecadação rendeu R$ 460 mil, que o viúvo usou para comprar uma casa. “Só de não pagar aluguel, já é um alívio e também ajudou muito no processo de adoção. A gente pagou R$ 380 mil na casa, com os documentos deu R$ 410 mil. Com o resto, paguei umas contas e guardei um pouco, porque as crianças ficam doentes, precisam de roupas... A gente também ganhou o prêmio do The Wall, de R$ 73 mil, que usamos para comprar nosso carro de sete lugares”, detalha.
Doações e 'bicos'
Ainda sobre a vida financeira, Daniel não esconde ter dívidas. Ele trabalha como técnico de enfermagem em um hospital e recebe cerca de R$ 1900 por mês, mas os gastos mensais da família ficam em torno de R$ 3 mil. Para conseguir fechar as contas, ele conta com ajudas, como de uma mulher que faz doação mensal e outra que manda uma cesta básica mensalmente para o viúvo e as cinco crianças.
Com 165 mil seguidores nas redes sociais, Daniel faz bicos como influenciador digital. Ele grava vídeos e divulga comércios da região, mas esses trabalhos são esporádicos e encaixados na rotina corrida da família.
O enfermeiro trabalha no período noturno, em plantões de 12 horas, dia sim e dia não. Quando está no hospital, tem a ajuda de uma babá que fica com as crianças, mas sai do trabalho e já passa em casa para levá-las à escola. No fim da tarde, busca os filhos, faz jantar e passa um tempo com os filhos.
Para o Daniel, o mais difícil da vida atribulada é não ter o marido para compartilhar o dia a dia. “Ele era meu tudo. Naqueles momentos em que preciso de um parceiro, em que preciso ligar para alguém, sei que ele não está aqui e bate um aperto no coração.”
Cuidando sozinho das crianças, o maior sonho do enfermeiro era um que compartilhava com Jhonatan. “Quero ver todos os meus filhos formados. Quero estar lá naquela plateia levantando do banquinho, batendo palma e falando: 'Consegui, venci'", conclui.